Desorientação Absoluta
Perante tanta desorientação, saiba a oposição aprender com as lições de 2015, 2019 e 2021
Já vimos este filme antes: foi entre 2015 e 2017, quando, chegado ao Governo Regional, Miguel Albuquerque acabou por demonstrar não estar à altura dos desafios da governação. A ilusão da solução já todos sabemos qual foi: depois do desastre das eleições autárquicas, Pedro Calado tomou conta da Quinta Vigia e, usando todo o tipo de expedientes – viagens, almoços e jantares grátis, cheques de todo o tipo e feitio, electrodomésticos a rodos e apoios sem critério a tudo o que mexia, agora denunciados pelo Tribunal de Contas como mal explicados -, colocou em andamento o rolo compressor do PSD, que só bateu de frente com a maioria social que rejeitou, pela primeira vez na história da nossa democracia, a maioria absoluta a quem governa – mesmo depois de, na recta final da campanha, terem ido mais longe do que nunca no aceno com o medo: o medo de que o Partido Socialista transformasse a Região numa “nova Venezuela”; o medo de que vivêssemos sob o jugo de uma Geringonça de esquerda, para depois acabarmos governados por uma coligação de direita com um partido que tem mais novos empregados do que deputados. Sabemos o que aconteceu depois: com o poder político e económico alinhados, com aliança confirmada na inauguração do túnel da Ribeira de João Gomes que ficou célebre por ficarmos todos a saber pelo dedo em riste do empreiteiro que quem pagaria a conta seria mesmo o povo, era preciso acabar o trabalho e derrubar a Câmara Municipal do Funchal, custasse o que custasse - e assim foi. Mas chegados a 2022, o que é que temos, afinal? Desorientação absoluta. Desorientação absoluta no Turismo, onde a estratégia de encher aviões borrega na incapacidade de gerir um destino que, ao contrário do aeroporto, o betão não faz crescer. Desorientação absoluta no Ambiente, onde a solução é apresentar trilhos sobrecarregados como a futura Grande Rota da Madeira e onde a opção estrutural da política ambiental é raptar cabras e ovelhas. Desorientação absoluta na Saúde, onde as listas de espera continuam a aumentar e apenas a proliferação do privado e dos custos suportados pelos cidadãos disfarçam as carências que alguém se convenceu que o novo Hospital resolverá, ilusão de quem julga que para tudo o betão é solução. Desorientação absoluta na Inclusão, onde já nem os entendimentos dentro do Governo se mantêm sobre a necessária resposta aos idosos, mas os Arraiais das Casas do Povo se organizam com máximo fulgor. Desorientação absoluta na Economia, onde a incapacidade de cumprir com os apoios prometidos em 2020 se disfarça com óculos de realidade virtual e moedas virtuais para norte-americano ver. Não há problema de pobreza que o milagre da telexfree não pareça resolver. Desorientação absoluta no Mar, onde os substitutos para as lapas a preços de ouro serão agora o camarão e a gamba regional. Desorientação absoluta na Educação, onde a organização do Desporto Escolar fez-se aos soluços por insuficiência de transportes numa terra onde praticamente tudo é regionalizado. Absoluta desorientação governativa – mas não só. Desorientação absoluta na Assembleia, onde, à falta de agenda legislativa digna, transforma-se a casa da democracia num programa televisivo de folclore nacional, inspiração para o futuro canal de política regional. Desorientação absoluta na Câmara do Funchal, transformada em casa de purgas consumadas, e na Associação de Municípios, transformada em casa de purgas anunciadas. Desorientação absoluta. Incapazes de fazer alguma coisa por iniciativa própria, PSD e CDS agarram-se agora ao Governo da República e ao Orçamento do Estado para se vangloriarem com conquistas alheias, depois de seis anos de contencioso unilateral agora esgotado - porque em situação aflitiva, o náufrago agarra-se a tudo o que pela frente lhe aparece. Perante tanta desorientação, saiba a oposição aprender com as lições de 2015, 2019 e 2021 e interpretar os sinais políticos que nos vão chegando de quem governa - internamente idênticos aos de 2013, externamente semelhantes aos do período de 2015 a 2017 -, e os madeirenses não terão de continuar a viver na realidade ilusória que lhes vendem de todas as formas. Mesmo que, a partir da capital, continue a fomentar-se a imagem de quem tudo resolve, mas absolutamente nada de diferente faz – e se na primeira todos caíram e na segunda caiu quem quis, na terceira só cairá quem desorientado deixarmos ficar.