O mundo das probabilidades é um campo onde se gladiam opostos que se alimentam de conforto e esperança. Perante um cenário favorável, onde as variáveis parecem reforçar a crença no sucesso há um manifesto conforto probabilístico que por vezes turva a clarividência e faz derrubar quem tropeça naquilo a que chamamos realidade. Porque nada pode ser dado como adquirido à priori.

Este é o ponto de partida para os que se agarram à esperança probabilística. Não há derrota antes da luta. E a realidade que derruba os grandes é a mesma que alenta os pequenos (nem todos, é certo). Em muitas frentes vemos a força dos fracos. Desviando-me propositadamente da associação mais imediata, resvalo em particular para a luta que muitos enfrentam na saúde. Há quem defenda que é errado atribuir probabilidades de sobrevivência. São números, os mesmos números. Podem encorajar a lutar, podem encorajar a desistir. Podem até nem ser os mesmos números, basta dois médicos em momentos diferentes não partilharem a mesma interpretação/avaliação da evolução da doença. E aí exponenciam a força da luta ou reforçam a impotência. Mais do que se agarrarem aos números importa agarrarem-se à vida - essa é a verdadeira luta. Para os fortes, para os fracos e para os outros.