Impacto da situação financeira sobre os percursos escolares é acentuado

Portugal é um dos países europeus em que o impacto da situação financeira sobre os percursos escolares é mais acentuado e em que a educação dos pais determina fortemente o nível educativo, assinalou hoje o governador do BdP.
"Mantém-se como traço muito claro no nosso mercado de trabalho que a educação dos pais determina muito fortemente o nível educativo que os filhos têm", afirmou o governador do Banco de Portugal (BdP), Mário Centeno, durante a apresentação do "Boletim Económico" de maio, no Museu do Dinheiro, em Lisboa.
O responsável do supervisor bancário destacou a análise inscrita no boletim, que conclui que a situação financeira condiciona a progressão nos percursos escolares em todos os países, mas que Portugal é um dos países em que o impacto da situação financeira sobre os percursos escolares é mais acentuado.
"Em Portugal esta dificuldade é acrescida pelo caráter muito frequente da situação financeira das famílias quando a verdadeira decisão sobre a escolaridade é tida dentro do âmbito familiar, que é aos 14 anos", salientou.
Mário Centeno explicou que a probabilidade de alguém ter o ensino superior quando os pais têm uma educação até ao 9.º ano em Portugal é de 18%, sendo esta percentagem ainda mais reduzida (10,5%) quando a família é classificada como tendo dificuldades financeiras.
Já um indivíduo cujos pais tenham o ensino superior tem uma probabilidade de 73% de também ter o ensino superior.
"Este constitui o maior entrave ao desenvolvimento de qualquer país", disse Centeno, ainda que tenha considerado "absolutamente notável" que o país tenha nos últimos 15 anos mais do que duplicado a percentagem dos jovens entre 15 e 24 anos que têm pelo menos o ensino secundário completo.
O responsável do supervisor vincou que "esta transformação estrutural permite a capacidade de reafetação e de composição setorial" da economia.
"A não existência de restrições financeiras multiplica quase por três a probabilidade de alguém em que os pais tenham educação igual ou inferior ao 9.º ano poder ter um nível de educação superior", acrescentou.