A Guerra Mundo

Rússia queixa-se de bloqueio a pedido de reunião sobre Busha

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A Rússia acusou hoje o Reino Unido, que detém a presidência rotativa do Conselho de Segurança da ONU, de tentar silenciar Moscovo ao rejeitar o pedido para uma reunião sobre o alegado massacre de civis na cidade ucraniana de Busha.

A delegação russa anunciou no domingo que tinha solicitado uma reunião específica do Conselho de Segurança "à luz das provocações atrozes dos radicais ucranianos em Busha", mas ainda não foi incluída na agenda oficial deste mês, em que o Conselho é presidido pelo Reino Unido

As autoridades ucranianas denunciaram a descoberta de mais de 400 corpos nas ruas de Busha, nos arredores de Kiev, o que, segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Dmitro Kuleba, "é o pior massacre na Europa desde a Segunda Guerra Mundial".

O pedido da Rússia juntou-se ao da Ucrânia para analisar o que aconteceu em Busha numa outra reunião marcada para terça-feira, quando o mais alto órgão decisório da ONU já tinha agendado uma reunião sobre a guerra.

Numa mensagem nas redes sociais, a embaixadora britânica, Barbara Woodward, defendeu que o país não vai permitir que a Rússia "abuse" da posição no Conselho de Segurança, no qual tem assento permanente, para promover "mentiras e propaganda".

Woodward confirmou que o suposto massacre de Busha e as outras "evidências crescentes de crimes de guerra" serão discutidos na sessão de terça-feira.

Mas o vice-embaixador da Rússia, Dmitry Polyanskiy, acusou Londres de usar "pretextos processuais infundados" para "diluir" o debate solicitado por Moscovo numa reunião maior.

"Claramente eles querem impedir-nos de levantar a questão separadamente, o que causaria danos à reputação de países ocidentais que já culparam a Rússia por matar civis em Busha. Isso não vai funcionar e o mundo precisa saber a verdade", argumentou, através das redes sociais.

Polyanskiy disse que a Rússia vai insistir numa reunião independente, na qual quer denunciar o que considera uma "provocação" do lado ucraniano para tentar responsabilizar a Rússia.

"Estamos impressionados com o alcance e a brutalidade da encenação de Busha", disse o diplomata, que acusou "neonazis ucranianos" de prestar homenagem à propaganda de Joseph Goebbels.

Polyanskiy denunciou "incríveis discrepâncias e erros" nas informações divulgadas.

O Ministério da Defesa russo também assegurou no domingo que as imagens publicadas pelo governo ucraniano não correspondiam à realidade.

"Queremos notar especialmente que todas as unidades russas deixaram completamente Busha em 30 de março, um dia após a ronda de negociações [de paz] frente a frente entre a Rússia e a Ucrânia na Turquia", alegou.

A Rússia sustenta que o autarca de Busha confirmou numa mensagem de vídeo em 31 de março que não havia mais soldados russos na cidade, "mas nunca mencionou que moradores locais foram baleados nas ruas com as mãos amarradas". 

A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que matou pelo menos 1.417 civis, incluindo 121 crianças, e feriu 2.038, entre os quais 171 menores, segundo os mais recentes dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real de vítimas civis ser muito maior.

A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.