Boa Noite

O ultimato russo

Embaixada em Portugal exige explicações ao DIÁRIO

Boa noite!

A pausa carnavalesca de poucos sonhos e disfarces fez-se de reflexão num cenário inimaginável, repleto de olhos húmidos e de corações feridos, de vítimas inocentes da guerra e de altruístas inexcedíveis, da crescente ajuda humanitária à Ucrânia e de manifestações vistosas pela paz um pouco por todo o mundo.

Só que ao oitavo dia da barbárie que não cessa chega-nos a ameaça.

Vem da embaixada russa em Portugal que nos exige explicações por alegadas “acusações desonestas e cínicas” lançadas contra a representação diplomática do regime de Putin no nosso País. Tudo porque escrevemos esta notícia na sequência do cancelamento da operação do repatriamento dos turistas russos de férias na Madeira que, por sinal, ainda estão na Região e, felizmente, devidamente protegidos e bem tratados.

Para além das observações feitas ao teor do que foi afirmado no nosso trabalho jornalístico pelo secretário regional do Turismo, com Eduardo Jesus a ser acusado de tendencioso, a Embaixada da Rússia nega ter recebido pedidos de comentários sobre a situação dos turistas na Madeira, mesmo que admita que o site da Embaixada e seu e-mail, localizado no domínio do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, foram alvo de “poderoso ataque cibernético externo”, pelo funcionam de forma intermitente. 

Ora, da nossa parte assumimos e reafirmamos que os contactos feitos no domingo passado junto da Embaixada da Rússia foram infrutíferos. E desses contactos temos provas mais do que suficientes para, no mínimo, recomendar bom senso a quem produz posts disparatados nas redes sociais, mas depois limita quem pode comentar a publicação.

Nada nos move contra ninguém, nem estamos comprometidos com as narrativas que os serviços russos insinuam haver e sobre as quais vão ter que dar explicações nos locais próprios. 

Nada temos contra o povo russo que defende a vida, o bem comum e os valores inquestionáveis e que por isso está bem integrado na nossa sociedade e até nos visita para retemperar forças e ganhar ânimo.

Não estamos em guerra contra a Rússia, até porque não usamos armas, nem matamos. Contudo, não podemos deixar de relatar factos comprovados e testemunhos eloquentes.

Não invadimos qualquer território, não atacamos a soberania vizinha, nem silenciamos a diversidade. Nada temos a ver com os piratas informáticos que também nos fazem a folha, não pertencemos à máfia, nem somos delinquentes com cadastro.

Não atentamos contra a liberdade de expressão – aqui mesmo os que pertencem à família política que não tem coragem para condenar publicamente os ataques contra a humanidade continuam a escrever -, mas não podemos deixar de constatar o que os próprios russos assumem. Aleksei Titov confidenciou-nos ontem que as “várias fontes de informação russas” sem ligações ao Kremlin já tinham fechado as portas!

Russo residente na Madeira admite que esta é a sua "nova pátria"

Aleksei Titov tem 60 anos e é natural da cidade de São Petersburgo

Rúben Santos , 02 Março 2022 - 22:26

Não somos nós que diagnosticamos a miragem democrática na Rússia. As imagens não mentem. Não podemos ignorar a prisão dos contestatários, entre os quais a activista russa Yelena Osipova, de 90 anos, que sobreviveu ao cerco que a Alemanha nazi fez a Leninegrado durante a Segunda Guerra Mundial, mas que por estes dias foi detida por protestar contra aquilo que abomina.

E não fomos nós que unilateralmente decidimos encurralar o ditador Putin, levando-o a elevar o patamar da ameaça global, mesmo que também tivéssemos adoptado sanções à escala doméstica, recusando beber poncha feita com vodka, enquanto são partilhados apelos a outros boicotes, por sinal, nem sempre precisos, como alerta o Polígrafo.

Tememos o pior, que um qualquer dedo desgovernado carregue no botão nuclear, mas mesmo assim, não nos calam.