A Guerra País

Enercon recusa carregamento e navio russo fica fundeado em Viana do Castelo

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Foto iStock

Um navio russo está fundeado em Viana do Castelo desde segunda-feira sem autorização da Enercon para carregar material eólico, na sequência das sanções aplicadas à Rússia pela ofensiva militar sobre a Ucrânia, disse hoje o comandante do porto.

Contactado pela agência Lusa, o capitão do porto e comandante da Polícia Marítima (PM) de Viana do Castelo, Silva Lampreia, adiantou que o cargueiro de bandeira russa Topaz Don chegou ao porto de Viana do Castelo na segunda-feira, às 20:15, e continua fundeado a aguardar instruções do armador russo, após ter sido impedido pela multinacional alemã de construção de aerogeradores de fazer o carregamento de pás e turbinas para torres eólicas para transportar para o Báltico.

"A sede da Enercon na Alemanha deu instruções à empresa de Viana do Castelo para não autorizar o carregamento na sequência das sanções aplicadas à Rússia, e o armador deu indicações ao comandante do navio para não entrar no porto e permanecer no fundeador", explicou.

Segundo Silva Lampreia, o agente de navegação, Burmester Stuve, "está a desenvolver diligências no sentido de mudar a bandeira do navio para tentar contornar a situação".

O responsável adiantou que a permanência do navio à entrada do porto de Viana do Castelo vai depender do estado do mar, uma vez que a partir das 18:00 e até às 21:00 de sexta-feira as previsões apontam para o agravamento da agitação marítima, com ondas de quatro a cinco metros de altura.

"Por questões de segurança poderei ter de determinar o afastamento do navio, para não se correrem riscos, [como] por exemplo o de se partir a amarra e o navio não ter tempo de reagir e dar à costa. Há vários fatores que têm de ser analisados em função das circunstâncias ambientais que também são relevantes", sustentou Silva Lampreia.

Contactada pela Lusa, fonte da Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo (APDL) disse que, "neste momento, não existe nenhuma orientação no sentido de impedir a entrada ou saída de qualquer embarcação, seja de que nacionalidade for".

"Por razões de segurança a embarcação recebeu água e combustível, por não haver indicações em contrário", referiu a fonte, adiantando que as "questões comerciais" ultrapassam a administração da APDL.

A Lusa enviou, por escrito, um pedido de esclarecimento à administração da Enercon, mas ainda não obteve resposta.

A Rússia lançou na madrugada de 24 de fevereiro uma ofensiva militar com três frentes na Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamentos em várias cidades. As autoridades de Kiev contabilizaram, até ao momento, mais de 2.000 civis mortos, incluindo crianças, e, segundo a ONU, os ataques já provocaram mais de 100 mil deslocados e pelo menos 836 mil refugiados na Polónia, Hungria, Moldova e Roménia.

O Presidente russo, Vladimir Putin, justificou a "operação militar especial" na Ucrânia com a necessidade de desmilitarizar o país vizinho, afirmando ser a única maneira de a Rússia se defender e garantindo que a ofensiva durará o tempo necessário.

O ataque foi condenado pela generalidade da comunidade internacional, e a União Europeia e os Estados Unidos, entre outros, responderam com o envio de armas e munições para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas para isolar ainda mais Moscovo.