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A cidade não é mercadoria!

O Funchal tem sido vítima de grandes problemas, de entre os quais se destacam os seguintes:

A especulação imobiliária: quase sempre recorrendo a pomposos “planos de urbanização”, se há uma marca mais funda que caracteriza o Funchal ao longo dos últimos 40 anos é a especulação imobiliária. Quer pelas mãos do PSD, antes, e, nos últimos anos, pelas mãos do PS, a especulação imobiliária comanda a cidade. Os interesses dos especuladores imobiliários campeiam na cidade. Por exemplo, veja-se o que aconteceu com o chamado “Plano do Amparo” e no que está a acontecer no Vale da Ajuda.

A fraude da dita “reabilitação urbana”: boa parte daqueles processos resultaram em instrumentos para pontapear o povo para as ultraperiferias. Nesses processos não só esteve em causa a descaracterização e o desfigurar da identidade do Funchal, são processos que agravam desigualdades e injustiças sociais, como fica demonstrado que a cidade está refém dos negociantes, ou seja, como o Funchal continua a ser edificado ao sabor dos interesses do capital. Lembremos o que aconteceu com o Solar D. Mécia, com o “quarteirão do Leacock”, o que está a acontecer na Rua do Carmo… 

A trafulhice da invocada “revitalização urbana”: os processos de alegada revitalização de espaços urbanos redundaram na substituição de paisagens de caráter popular por construções “típicas” destinadas à especulação imobiliária. Trata-se do esquema em que o espaço geográfico urbano foi mudado e ressignificado, sobretudo em função da valorização acentuada dos imóveis e do enobrecimento de uma área antes considerada “do povo”. Veja-se o que está a ser implantado no Largo do Pelourinho, na Travessa da Malta, na Rua Direita…

O Funchal tem uma história e uma identidade a salvaguardar, e precisa de novas soluções em que imperem o interesse público de preservação, seja ambiental, seja do ponto de vista do património histórico, cultural, paisagístico e arquitetónico.

O Funchal não pode ser encarado como mera mercadoria. Não podemos aceitar que a cidade seja construída ao sabor dos mercadores, seguindo os interesses de quem apenas quer fazer o seu negócio. Não pode o Funchal continuar a ser objeto de uso e de abuso para as negociatas capazes de saciar os apetites dos especuladores imobiliários.