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“Coisinhas” corriqueiras

Adoro os meses que antecedem as eleições, sejam elas quais forem, porque já nos habituaram à obra feita

1. Temos nova novela em torno de Cristiano Ronaldo. Não querendo desculpar eventuais irregularidades no processo de licenciamento, o que me choca é a cobertura jornalística e o sobressalto em torno deste caso. O Ronaldo dá um passo em falso e já estão todos sedentos para ver o seu infortúnio. Muitas vezes assistimos a uma verdadeira devassa da sua vida, fora dos relvados. Infelizmente, mas é algo comum na natureza humana, muitos regozijam-se com a desgraça alheia principalmente dos mais realizados e/ou dos mais felizes, ou seja, dos mais invejáveis. Mas voltando ao assunto urbanístico, temos casos gravíssimos de atentados na construção por todo o país, muitos assumidamente envoltos num manto de corrupção e favorecimento, mas a marquise do Ronaldo, no topo de um edifício é o exemplo de degradação arquitetónica de uma cidade?

Lá pelo Continente, e em especial na Capital, basta dar uma volta para ver o que ricos e pobres fazem seja nas fachadas dos prédios, na edificação de verdadeiras aberrações ou até de autênticas favelas sem qualquer controlo.

Onde estão os Arquitetos nesses casos? Onde está a opinião e discussão públicas? Não há mediatismo? Deve ser uma grande chatice andar atrás da “pata rapada”, que não tem os milhões ou a exposição do Ronaldo, ou de grandes promotores imobiliários, que têm de se manter no anonimato, não é?

2. Depois de um fim de semana carregado de Ingleses, bebedeiras, ajuntamentos e incumprimentos, que eram mais do que previsíveis, vimos as forças de segurança (por ordens superiores) numa passividade gritante e depois a tentar pobremente justificar o injustificável. Foi a antítese da noite de festejos da vitória do Sporting, em que a necessidade de controlo foi tal que tiveram de recorrer à força para conter os excessos dos adeptos Portugueses. Mas os Ingleses, por ventura mais especiais aos olhos do nosso governo, tiveram carta branca para cá estar como se as regras inerentes ao comum dos mortais Portugueses, em particular as de controlo da pandemia, não se lhes aplicavam. Confesso que senti pena dos operacionais da segurança, incumbidos de servirem como simples observadores, mas mais ainda dos que tiveram de prestar declarações. O desconforto era mais do que evidente. O que se passa na cabeça destes governantes? Que exemplo é este que damos aos nossos cidadãos, a quem nos visita e ao mundo? Depois querem que a malta aceite tudo e não conteste as medidas por vezes bem restritivas, mas que infelizmente são ainda necessárias.

3. Muito obrigada à Inglaterra pelo que fez ao turismo de Portugal. Por ter aberto as portas ao nosso país mesmo a tempo da realização da final da Champions e permitido 15 mil almas “bem comportadas” nos visitassem trazendo alguns “significativos” milhares em receita. Ainda estou aqui a pensar como foram inteligentes os nossos governantes, agarrando esta oportunidade quando mais ninguém na Europa quis. Os governantes Portugueses estão mesmo muito “à frente”. Agora, que o Reino Unido nos fecha, novamente, a porta aos turistas “normais”, só pode ser para nos proteger desses malvados. Lembrem-se, turista que não é hooligan ou adepto de futebol não presta para Portugal. E esta…?

4. Adoro os meses que antecedem as eleições, sejam elas quais forem, porque já nos habituaram à obra feita, novos projetos e um contacto mais particular com as pessoas. Já é tão normal assim ser, que já ninguém leva a mal. Início de mandato são tomadas as medidas impopulares, a meio é gerir e no final é fazer, fazer, fazer. Fico contente quando se faz. Devíamos ter eleições todos os anos. Ai o que se fazia...