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Ir mais além

Reafirmo que há interesses instalados que impedem reformas estruturantes e o início de um novo ciclo económico

Sou um otimista por natureza e por isso não partilho da opinião do escritor José Luis Peixoto, de que “estamos num momento em que é difícil olhar para o futuro”. Em 2013 era isso o que eu mais ouvia, no pico de uma crise económica e social, e num sufoco político agonizante. Fará no próximo dia 25 de Abril, oito anos sobre a data em que resolvi olhar o futuro com esperança e dar um passo em frente ao entrar na política. Digo sempre aos meus filhos, quando eles têm de tomar uma decisão, de que o caminho mais fácil nunca é o melhor. Foi também por eles que avancei, porque o que lhes diria um dia quando me perguntassem o que fiz para lutar por aquilo em que acredito? O que lhes diria que fiz para que a nossa Região fosse mais justa, mais livre de medos e de desigualdades, e onde todos pudessem ter uma oportunidade independentemente da filiação partidária ou do nome da família?

Não dependo da política para viver, mas dependo da minha consciência para poder continuar a respirar. Tenho procurado estar do lado certo da história e onde acho que sou mais preciso. Nunca estive agarrado a nada e sei que o estar na política é uma passagem. Já tomei decisões difíceis, e tudo o que fiz foi mais a pensar em desencadear processos do que em conseguir resultados imediatos. Sei que nada consigo sozinho, e felizmente estou acompanhado de tanta gente altruísta e generosa, gente que acredita e que não deixa morrer o sonho. Gente que não pensa no bem pessoal, nem sequer no bem de alguns, mas no bem de todos. Vergílio Ferreira escreveu que “a função da esperança é preencher o que nos falta”, e é por isso lutamos para mudar a realidade, por alcançar o que falta.

Enquanto não mudar o governo na Região, tudo se manterá inalterável. A Região está sequestrada por uma série de interesses que impedem um crescimento económico sustentável e para todos. Pode haver quem não queira, e há incómodos de onde menos se espera, mas o PS Madeira vai continuar a denunciar olhos nos olhos, e não como alguns no anonimato, situações de promiscuidades e favorecimentos ilegítimos, porque como disse a Sophia de Mello Breyner, numa sessão de apoio ao Solidariedade da Polónia, promovida por Mário Soares nos anos 80, “a política é um capitulo da moral e por isso estamos aqui”.

Reafirmo que há interesses instalados que impedem reformas estruturantes e o início de um novo ciclo económico. Se é verdade que a Região nos últimos anos ficou servida de infra-estruturas modernas e obras de encher o olho, também é verdade que o regime político que nos tem governado até aos dias de hoje, foi assente numa economia promotora de desigualdades que, simultaneamente, foi criadora de pobres e construtora de grandes riquezas. A má distribuição da riqueza deve-se, entre outras razões, ao facto da iniciativa privada estar muito dependente do poder político. Uma economia clientelar, em que a função do Governo Regional é saciar essas clientelas, amarrando todas políticas e todos os orçamentos ao mesmo de sempre e aos mesmos de sempre. E têm sido muitos milhões derramados sem o retorno económico devido. Até no sector do turismo, onde somos mais fortes, não temos conseguido ser competitivos, apesar de termos um produto excelente e diferenciado. Nem tão pouco conseguimos diminuir a nossa dependência do exterior, nem valorizar a produção regional, e nem sequer gerir bem os nossos recursos hídricos, que apesar de abundantes, deixam muitos agricultores com falta de água para a suas culturas. Ao longo dos últimos anos, em vez de resolver-se, agravaram-se os desequilíbrios na ocupação do território, com consequências visíveis no despovoamento, no abandono dos campos, no aumento da insegurança e das catástrofes, na fuga dos jovens e no envelhecimento da população. Há uma enorme dificuldade em criar-se empregos qualificados e fixar jovens. Apesar dos excelentes edifícios escolares, temos elevadas taxas de abandono e absentismo, e uma urgência em qualificar a nossa população.

Esta pandemia expôs fragilidades já existentes e há que resolvê-las de uma vez por todas. Não podemos perder esta oportunidade e de querer voltar ao que era antes. Precisamos de investir na qualificação das pessoas e na diversificação da nossa base económica, melhorando a capacidade de atração de empresas e de investimento externo, implementando estruturas tecnológicas e digitais, e apostando na Universidade da Madeira, devidamente financiada e com projeção nacional. Há quem viva bem com a Região que temos, há até quem se “alimente” deste regime, mas irei continuar a lutar por uma sociedade onde todos possam ir mais além.