Crónicas

Perdoa-nos pois não sabemos o que fazemos

A UBER suspende a actividade na Madeira a partir de 1 de Maio. Muito obrigado aos socialistas do PSD e à esquerdinha light do CDS por não deixar o mercado e a livre concorrência funcionar

1. Disco: O Gajo lançou “Subterrâneos”, uma viagem ao país profundo pela mão de João Morais, tendo como actriz principal a Viola Campaniça.

2. Livro: “Cisnes Selvagens”, de Jung Chang, uma história de três mulheres: a autora, a sua mãe e a avó. Essencial para quem quer conhecer os anos de Mao. Um livro fascinante de leitura compulsiva.

3. Volta Cristo. Volta cá abaixo que bem precisamos de ti. Por nós morreste na cruz. Por todos abandonado. Até Pedro te renegou. O teu templo, que é aquele bocadinho de divino que cada um de nós transporta, deixou-se vender. Por qualquer coisa, por uma mão cheia de nada. Precisamos de uma limpeza, como a que fizeste na Pessach, e expulsar os vendilhões que nos toldam a vista com o ouro dos tolos que para nada serve.

Vem cá abaixo por favor. Temos os olhos, que são a porta para a cabeça, toldados por porcarias sem valor. Somos crédulos e não crentes. Não questionamos nada e tudo aceitamos. Ajuda-nos. Permite-nos que voltemos a acreditar em como somos importantes se sabedores. Deixa que nos ponhamos nas próprias mãos e não nas dos outros, nos que nos enganam com o bodo dos tolos.

Volta, nem que seja por um minuto, e traz a luz. E que seja como dizia o Almada: “em vez de ter morrido numa cruz, por ti, antes tivesse pegado na lança que me abriu o peito, para com ela te rasgar os olhos da cara, para deixar entrar claridade para dentro de ti pelos buracos dos teus olhos.”

Andamos todos cegos, de olhos bem abertos. Sem conseguir ver o óbvio, o evidente. Do que gostamos é que uns poucos vejam por nós. Porque o ver, que é diferente do olhar, é compreender, é saber. E isso é, muitas das vezes, doloroso.

Volta Jesus, para que os arrogantes te possam perdoar. Esses, que entre nós são os de menos, mas que deixamos que sejam os de mais. Os que adoptam a mediocridade como bem maior.

Vem. E arranca-nos do medo que nos impede de pensar. De ser e de sentir. Explica-nos que o que o Pai criou rege-se pela ciência, que é toda ela obra sua. Ensina-nos que o “achismo” é próprio dos preguiçosos, dos “mal pensantes”. Catequiza-nos para o valor do respeito, do diálogo, do consenso.

Mas vem com todo o cuidado.

Se o não tiveres o mais certo é voltares para a cruz enquanto o Diabo esfrega um olho.

4. Primeiro inventaram a máquina a vapor. E a manufactura foi substituída pela industrialização.

Depois inventaram o carro. E facilitaram-se as deslocações. A diligência desapareceu e o autocarro ficou com o seu lugar.

Veio o avião e o transporte marítimo de passageiros quase morreu.

O telefone matou o telégrafo e quase foi morto pelo telemóvel.

O CD matou o vinil e desapareceu com o streaming musical.

Hoje ninguém escreve e manda cartas. Comunicamos por correio electrónico ou conversamos via FaceTime.

O fotógrafo e a loja de fotografia foram substituídos pela câmara digital.

O plástico invadiu-nos as casas e quase ninguém recorre a um marceneiro.

Todas as invenções têm um quê de disrupção associada. Introduzem simplificação de procedimentos, necessidade, acessibilidade e redução de custos. Ninguém inventa para complicar ou para tornar tudo mais caro.

No meu Smartphone tenho hoje acesso a mais de 70 milhões de músicas no Spotify, no Tidal, no iTunes ou no YouTube. Tenho milhares de séries na Netflix, HBO, Apple+ ou no Amazon. Replico tudo no tablet e acrescento uma enorme biblioteca e todos os canais do cabo que tenho na Smartv em casa. E isto revolucionou inúmeros sectores de actividade, obrigando-os àquela que é uma das nossas características evolutivas: a capacidade de adaptação.

Quero com isto dizer que ao longo da história, um dos segredos da evolução humana tem a ver com a capacidade que temos de inventar disruptivamente e com a capacidade de nos adaptarmos, rapidamente, a essa disrupção. Como tão bem escrevem Acemoglu e Robinson, “a inovação precisa de criatividade e a criatividade precisa de liberdade”.

Tudo isto vai acontecer apesar dos “velhos do Restelo” que não entendem o novo, que têm medo do inovador, que recusam o futuro.

5. Depois da introdução acima, vamos ao que aqui me traz. A UBER suspende a actividade na Madeira a partir de 1 de Maio. Muito obrigado aos socialistas do PSD e à esquerdinha light do CDS por não deixar o mercado e a livre concorrência funcionar.

Os trabalhadores da UBER, e da BOLT, que certamente seguirá o mesmo caminho, agradecem o terem esta oportunidade de engrossar as listas do desemprego.

O que dizer àquele que estava a receber o subsídio e apresentou um projecto de criação do próprio posto de trabalho. Que viu a sua pretensão aprovada. Que abriu uma empresa unipessoal, comprou o carro, tirou as licenças requeridas, pagou-as, e começou a sua actividade como pequeno empresário. Este terrível explorador capitalista do seu próprio trabalho começou a trabalhar e 4 meses depois a fica a saber que a UBER deixa a actividade na Madeira. Ou seja este empreendedor recebeu um apoio do mesmo Estado que legislou de maneira a que a actividade que iria exercer se tornasse comercialmente desinteressante.

Outra empresa regional constituída para o efeito por madeirenses acabou de investir 60 mil euros na compra de três automóveis. Sempre os podem dividir pelos sócios e procurar emprego, que escasseia, noutra actividade qualquer.

E o que fazer dos motoristas que foram obrigados a fazer os cursos que a legislação regional obriga e que custam 300€?

Ao contrário do que muitos pensam, há viaturas que prestam serviço TVDE que ou pertencem ao próprio motorista, ou a pequenas empresas cujos sócios são também motoristas.

Recusar abraçar o futuro por meros pressupostos dogmáticos é persistir em andar com a cabeça enfiada no fundo das costas.

6. Depois de aparecer em duas sondagens autárquicas no Funchal, noutra na Ribeira Brava e ainda outra em Santana, serei candidato da Iniciativa Liberal a Santa Cruz.

Aceitei o desafio de liderar uma lista completamente paritária e de uma competência a toda a prova.

É uma honra poder ser candidato no concelho onde investi parte da minha vida ao comprar a minha casa. Onde pago os meus impostos. O concelho onde no passado fiz as minhas primeiras, e até agora únicas, experiências empresariais. Onde voto. O concelho onde exerço a minha profissão.

Não esperem daqui uma entrada no folclore do costume. No folclore do ataque soez, da politiquice e do insulto, do dogma torpe, do relacionamento vil e reles.

Comigo a política do confronto e do insulto não pega, pois, pelo amor que todos temos que ter a Santa Cruz, terá sempre que ser muito mais o que nos une do que aquilo que nos separa.

A postura será sempre de diálogo. De todos ouvir porque não dono da verdade.

Com toda a brevidade esta candidatura andará no terreno a procurar respostas junto dos santa-cruzenses, que são quem sabe dos seus problemas, ansiedades e anseios.

Como é o nosso estilo de vida afectado pelo viver em comunidade? Como dar mais aos que têm menos e menos aos que têm mais? Em que sentido o concelho afecta, ou não, a actividade económica, especialmente na variedade e qualidade das suas acessibilidades, das oportunidades de trabalho que proporciona e da qualidade desses empregos? Será que a qualidade resultante da intervenção do domínio público tem um impacto positivo ou negativo na liberdade e no bem-estar das pessoas? Qual o modelo preconizado para que as emissões de carbono, e outros gases, sejam reduzidas? Qual o tipo de energia que procuramos? O que fazer no que respeita aos resíduos sólidos? Que tratamento? Onde se deve posicionar o concelho no modo como interage com a cultura? Que economia e que fiscalidade? Que aproximação em relação ao mar? Qual a dinâmica turística que deve o concelho proporcionar?

São estas, de entre muitas, algumas das questões que queremos, com a ajuda de todos, ver respondidas.

Ajudem-nos a ajudar.