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Etiópia anuncia que tropas da vizinha Eritreia começaram a retirar-se de Tigray

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O ministério etíope dos Negócios Estrangeiros assegurou que as tropas da vizinha Eritreia já começaram a retirar-se da região fronteiriça de Tigray, mergulhada desde novembro num conflito armado que causou centenas de mortos e dezenas de milhares de deslocadas.

"Como anunciado na semana passada, as forças eritreias que tinham atravessado a fronteira depois de terem sido provocadas pela Frente de Libertação do Povo Tigray [TPLF] começaram a retirar-se e a Força de Defesa Nacional Etíope [nome das forças armadas do país] assumiu a defesa da fronteira nacional", disse o ministério numa declaração publicada sábado à noite na rede social Twitter.

A nação africana também criticou a declaração divulgada na sexta-feira pelo G7, na qual os ministros dos Negócios Estrangeiros dos Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Canadá, juntamente com o alto representante da União Europeia, condenaram as violações dos direitos humanos em Tigray e exigiram "o início de um processo político".

"O comunicado do G7 não reflete os passos importantes dados para responder às necessidades prementes da região", refere o Ministério dos Negócios Estrangeiros etíope.

O primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, anunciou a 26 de março que tinha acordado a retirada das tropas eritreias com o presidente da nação vizinha, Isaias Afwerki, durante a sua visita de trabalho à capital, Asmara.

Através da sua conta no Twitter, Abiy assegurou que o exército etíope assumiria "a vigilância das zonas fronteiriças com efeito imediato", mas não especificou quantos soldados eritreus foram mobilizados até agora na conturbada região norte, embora as testemunhas estimem que poderiam ser milhares.

O chefe do governo etíope tornou público o acordo após ter admitido oficialmente a presença de soldados eritreus em Tigray pela primeira vez na terça-feira.

Perante o Parlamento em Adis Abeba, Abiy confirmou o destacamento de tropas eritreias na região, mas negou que estivessem a ajudar o governo na luta contra o PFLT, o partido no poder naquele território até ao seu derrube em novembro passado.

"Quando o exército etíope se retirou da fronteira com a Eritreia para se posicionar em áreas do Tigray central em busca de forças inimigas que os atacassem por trás, as forças eritreias atravessaram a fronteira para a Etiópia e ocuparam algumas áreas anteriormente controladas pelo exército etíope", disse.

"Fizeram isto porque sentiram que as forças da PLAF poderiam voltar para atacar a Eritreia. Portanto, estão lá para evitar um risco potencial para a sua segurança nacional", acrescentou.

Abiy também reconheceu que "atrocidades e violência sexual" foram cometidas em Tigray - que a ONU acredita poderem ser "crimes de guerra e crimes contra a humanidade" - e disse que o governo traria os perpetradores à justiça.

A Comissão Etíope dos Direitos Humanos (EHRC) e o Gabinete do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos (OHCHR) anunciaram na quinta-feira (25 de março) que irão conduzir uma investigação conjunta sobre as violações e abusos dos direitos humanos alegadamente cometidos por todas as partes na região etíope.

O conflito na Etiópia estalou a 04 de novembro depois de o governo central ter atacado o PFLT em retaliação a um ataque anterior das forças tigrarianas a uma base do exército federal.

Desde então, pelo menos 75.000 etíopes fugiram para o vizinho Sudão, um país limítrofe de Tigray, de acordo com dados oficiais.