Comissão pede libertação de tradutores e jornalistas detidos na Etiópia
A Comissão de Direitos Humanos da Etiópia manifestou hoje preocupação com as recentes detenções de jornalistas e tradutores em Tigray, onde decorre uma operação militar desde novembro, instando as autoridades a apresentarem "acusações credíveis" ou a "libertá-los".
"Embora a informação incorreta e a desinformação sejam desafios recorrentes nesta crise, a detenção de jornalistas é uma resposta desproporcionada. Façam acusações credíveis ou libertem-nos", escreveu na rede social Twitter o chefe da Comissão dos Direitos Humanos da Etiópia, Daniel Bekele.
A comissão é um organismo independente, mas tutelada pelo Governo.
Vários jornalistas ou tradutores para correspondentes estrangeiros foram presos desde sábado.
Entre eles estão Fitsum Berhane e Alula Akalu, que trabalhavam como tradutores para jornalistas da agência France-Presse e do Financial Times.
Os dois meios de comunicação tinham obtido autorização da Autoridade Etíope de Órgãos de Comunicação e do Ministério da Paz para viajarem até Tigray, onde o acesso dos jornalistas foi restringido desde o início da operação, há quatro meses.
As autoridades não apresentaram os motivos para a sua detenção.
O diretor informação da AFP, Phil Chetwynd, apelou, na segunda-feira, para a libertação imediata de Fitsum Berhane.
"Não temos conhecimento de qualquer acusação específica contra Berhane e a colaboração com um órgão de comunicação social não deve ser motivo para a sua prisão", disse.
Dois outros jornalistas foram presos, um que trabalhava para a BBC, Girmay Gebru, e um jornalista local, Temrat Yemane.
Todas estas detenções foram efetuadas por soldados, de acordo com familiares dos detidos e testemunhas.
O primeiro-ministro etíope e Prémio Nobel da Paz de 2019, Abiy Ahmed, ordenou uma operação militar em larga escala contra as autoridades dissidentes do Tigray, membros da Frente de Libertação do Povo Tigray (TPLF), no início de novembro de 2020, acusando-os de ataques a bases do Exército federal.
Abiy declarou vitória no final de novembro com a captura da capital regional Mekele, mas as autoridades em fuga da região prometeram continuar a luta e desde então foram noticiados vários combates.
As notícias de atrocidades cometidas contra civis estão a aumentar, inclusive por soldados da vizinha Eritreia que se juntaram a Abiy na luta contra a TPLF.
As autoridades de Adis Abeba e Asmara negam oficialmente que as tropas eritreias estejam ativas na região.
A Associação de Correspondentes Estrangeiros da África Oriental apelou também hoje para a libertação imediata dos jornalistas detidos.
"Visar jornalistas e seus associados (...) mina seriamente a promessa do Governo de abrir à imprensa" o acesso à região, disse a organização numa declaração.