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UE vai apresentar resolução contra o Irão na AIEA

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A União Europeia (UE) vai apresentar uma resolução à Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) a condenar a decisão do Irão de suspender várias inspeções ao seu programa nuclear, anunciou hoje a diplomacia francesa.

"[A decisão] vai levar-nos, nos próximos dias, a apresentar um protesto no quadro do Conselho de Governadores da AIEA", revelou o chefe da diplomacia francesa, Jean-Yves Le Drien, numa sessão do Comité dos Negócios Estrangeiros da Assembleia Nacional gaulesa.

Le Drien confirmou também uma informação obtida junto de fontes diplomáticas segundo a qual a Alemanha, França e reino Unidos, três países europeus ligados ao Acordo de Viena, têm a intenção de, na sexta-feira, submeter a voto no Conselho de Governadores da AIEA um texto em que apelam ao Irão para "retomar imediatamente" o calendário de inspeções definido no que ficou definido na capital austríaca.

O Irão, por seu lado, emitiu hoje um novo alerta contra a possível adoção de tal resolução. 

Num momento em que Teerão e a comunidade internacional procura, salvar o acordo nuclear iraniano alcançado em 2015 em Viena, o porta-voz do governo iraniano, Ali Rabii, alertou que a adoção de tal resolução correria o risco de tornar esses esforços em vão. 

No entanto, Rabii reafirmou o compromisso do executivo iraniano com uma solução concertada.

Na segunda-feira, a agência noticiosa France-Presse (AFP), com base em fontes diplomáticas, tinha avançado que os três países europeus signatários do acordo nuclear iriam apresentar a resolução esta semana à AIEA.

Apoiada pelos Estados Unidos, a resolução deve ser apresentada para ser votada pelo Conselho de Governadores da AIEA na sexta-feira.

Concluído em Viena entre o Irão e o grupo 5+1 (os cinco membros permanentes da ONU -- Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia e China -- mais a Alemanha), o Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA na sigla em inglês) pretende limitar o programa nuclear do Irão em troca do levantamento de sanções internacionais.

Mas o ex-Presidente Donald Trump retirou unilateralmente os Estados Unidos do acordo em 2018 e restabeleceu duras sanções contra o Irão.

Em resposta, Teerão tem deixado desde 2019 de cumprir progressivamente as suas obrigações no âmbito do pacto e suspendeu a semana passada algumas inspeções da AIEA.

A Rússia já assinalou abertamente a sua oposição à resolução, alertando contra "medidas desastradas e irresponsáveis que podem minar as perspetivas de restabelecimento total" do acordo "num futuro próximo", segundo escreveu o embaixador russo junto da AIEA, Mikhail Ulyanov, na rede social Twitter.

Para um diplomata questionado pela AFP, trata-se de uma questão de "credibilidade" do Conselho dos Governadores da agência da ONU, que não pode, segundo ele, ceder à "chantagem dos iranianos", ainda que tal possa comprometer a possibilidade de salvar o acordo no imediato.

A mesma fonte admitiu que esse "é o risco que se corre", mas declarou-se, por outro lado, "confiante" em que a resolução seja aprovada.

Além da Rússia, também a China votou contra a última resolução crítica do Irão, aprovada em junho de 2020, face à recusa da República Islâmica de autorizar a inspeção de dois locais suspeitos. Esta foi a primeira resolução desde 2012.