Coronavírus Madeira

Mortes a mais divididas pelas funerárias

As cinco que contactámos registaram um ligeiro aumento, nada significativo. Se para uns o negócio resiste à crise, para outros não escapa

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Foto Adelino Meireles / Global Imagens

A centena de mortos a mais registada em Dezembro do ano passado e Janeiro deste ano foram divididos pelas agências funerárias que não reflectiram um aumento significativo de trabalho, apesar de a estatística comprovar que se morreu mais em ano covid-19 e particularmente nestes últimos dois meses da chamada terceira vaga, como pode ler na Manchete de hoje do DIÁRIO. “Dezembro e Janeiro sempre foram dois meses em que morreu muita gente”, esclareceu um dos funcionários da Funchalense, admitindo que no caso desta funerária tenham tido mais alguns casos. No ano passado, não tem dúvidas de que fizeram mais funerais. Mas os números da Madeira nada têm a ver com a realidade do continente, acrescentou Dinarte Rodrigues, da Agência Funerária Câmara de Lobos.

A nível de falecimentos, a Funchalense têm feito alguns de covid-19 mas nada significativo dentro do universo do trabalho habitual. Também porque as mortes pela doença na Madeira estão abaixo da meia centena e há muitas agências funerárias a trabalhar na Região, justifica o funcionário, pedindo reserva do seu nome. “São distribuídos por uns e por outros, acabamos por não fazer quase todos. Aqui da nossa parte, uns cinco ou seis”, estima. Os números repetem-se nas outras funerárias e há quem tenha feito menos.

Na Madeira, as cinco agências contactadas são unânimes: não houve falta de urnas e a pandemia não veio dar as voltas ao trabalho, salvo pela necessidade de adquirir fatos de protecção, luvas e máscaras. Todas apostam no armazenamento para situações inesperadas, como o acidente do Monte e o do autocarro, exemplificou o mesmo interlocutor. “As agências têm de ter sempre um stock de urnas, também para satisfazer o cliente, não se pode ficar à espera porque em qualquer altura pode haver algo e temos de estar sempre preparados.”

Sobre a ideia de que as funerárias passam ao lado da crise, contesta, diz que não é bem assim, que podem fazer cem funerais, mas podem não receber de nenhum. “As pessoas pensam que há mais funerais, as agências estão todas ricas. Isso não é bem assim. É preciso ver que as agências quase todas têm grandes problemas a nível de cobrança”. Recorda que as pessoas procuram as funerárias num momento delicado. “As famílias vêm cá, mas posterior a isso… É verdade que podemos ter uns casos de bons pagantes, mas depois acaba sempre, um ou outro... Também não é fácil.”

Dinarte Rodrigues tem uma visão diferente. Talvez porque tenha melhores clientes. “É um facto que as funerárias não passam pelas dificuldades de outros tipos de negócios passam, é normal”, afirmou. “Mas também dependemos sempre da fatalidade dos outros”, ou seja, se há ou não há mortes. Normalmente, diz, há sempre um determinado número de óbitos por ano e é com essa estabilidade que trabalham. “Os números não variam muito de ano para ano. Daí que é lógico, que independentemente da pandemia, as funerárias são um dos negócios que não fecham, em circunstância nenhuma”.

Mesmo com os números da covid-19, pouco mudou nesta casa. “Não se vê aquela loucura que é no continente, aí as funerárias pelo que se vê, não têm mãos a medir”. “12 mil e tal óbitos com covid. Ora 12 mil e tal óbitos são seis anos ou sete anos de óbitos aqui na Madeira”, comparou.

NaaAgência Câmara de Lobos, em Dezembro os números foram semelhantes ao do ano anterior e em Janeiro sentiu um aumento de 10%, “não é significativo”, disse o câmara-lobense.

A Alma Grande confirma o ligeiro aumento da procura. “Para nós foi mais uns 2%”. Neste número estão seis casos de morte com covid-19. “Não esperava tantos mortos aqui” devido ao novo coronavírus, confessou Vítor Melo. Quem pensa que o tempo é bom para o negócio e que as agências escapam às dificuldades engana-se, garante, sem se alongar. E confessa que “queria que não houvesse mortes destas”. Segundo o funcionário da Alma Grande, há um menor investimento nos funerais. “Mas já não é de agora”. O facto de a cerimónia ficar restrita à família também não ajuda. “As pessoas não podem ver os seus entes queridos, é meio complicado, para as famílias, principalmente.”

Alguns dos enterros a mais foram para a agência Freitas, confirmou um funcionário, que também preferiu não dar o nome para a reportagem. Nos funerais realizados estão três casos de morte por covid-19 e um outro que seguiu os moldes, mas que era apenas suspeito.

A Garcês, uma das mais antigas da Madeira, por exemplo revela que em Janeiro de 2020 fez 33 funerais e que em Janeiro deste foram 34. “Foi mais um”. Quanto às contas de Dezembro, foram exactamente iguais. “Fiz a mesma coisa, mesmo igual: 26”.

Nesta agência, além de comprar as protecções para os pés, cabelo, máscara, luvas e fatos, compraram também mais urnas de cremação. “Pode ser sepultado, mas convém ser cremado”, defendeu. As autoridades aconselham a que o corpo seja cremado e Bruno Cardoso também o faz. “É mais seguro, são menos riscos que se corre também no futuro”.

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