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“Nós e o tempo”

Fiódor Dostoiévski in Recordações da Casa dos Mortos.

“Concluí um dia que se quiséssemos atormentar um homem, puni-lo cruelmente , esmagá-lo de modo que o mais feroz assassino se horrorizasse ante esse castigo e tremesse mesmo, bastaria dar ao seu trabalho o caráter de completa inutilidade , de verdadeiro absurdo.”

Estaremos nós actualmente, fruto desta reinante ganância capitalista, a atormentar, ao limite, o homem??

Estaremos nós, de forma ignóbil, inqualificável e triste, a punir o ser humano, reduzindo-o ao absurdo??

Estaremos nós, com tudo isto, a dignificar os seus direitos universais ??

Ou estaremos tão só a subjugar, de forma vil e atroz, o ser humano a tratamentos infames e reprováveis, que o levarão à depressão, à exaustão, à clausura e quiçá à morte espiritual, ou porque não à sua própria morte física!!!!!!

Seremos dignos que nos chamem animais racionais, quando conseguimos infligir ao próximo tamanha dor, ao ponto de o mesmo acabar com a própria vida, existirá suicídio nos outros animais deste universo, ou seremos os únicos que, pela dor, pelo esquecimento, pela indiferença dos nossos pares, sem escape, nos refugiamos nesta cruel e irrevogável decisão ????

Vivemos num tempo onde o tempo tomou conta da nossas vidas e que nos vemos muitas vezes sem tempo para as pessoas mais queridas.

Vivemos num tempo em que não temos tempo, vivemos num tempo em que as pessoas nem para si têm tempo, quanto mais ter tempo para os outros.

Vivemos num tempo em que desejamos que haja mais tempo, para ver o tempo passar, vivemos num tempo em que a falta de tempo nos irá matar.

Vivemos num tempo, em que só temos tempo para trabalhar.

Vivemos num tempo, em que já não nos apercebemos da verdadeira razão do viver, vivemos num tempo, que nos faz sofrer.

Vivemos num tempo onde somos meros números, vivemos num tempo em que o passado de nada vale, vivemos num tempo que nos destrói a compaixão, o companheirismo, o trabalho em equipa.

Vivemos num tempo, em que o “eu” é mais importante do que o “nós”, vivemos num tempo, que envergonharia os nossos avós.

Vivemos num tempo, ao qual desejo a “morte”, vivemos num tempo, onde a vida é um jogo de azar ou de sorte.

Vivemos num tempo, onde se confunde o Sul com o Norte.

Vivemos num tempo ...embora muitas vezes não nos sintamos vivos.

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