Reencontros agridoces
Após a reabertura das visitas aos lares, muitos de vocês tal como eu, já tivemos os primeiros reencontros com os nossos familiares. Muitas lágrimas à mistura, ansiedade e frustração por não podermos beijar ou acariciar aquele ente querido que já não víamos à mais de dois meses. Apesar de ser uma situação compreensível para nós visitantes, notou-se incompreensível para muitos deles que não entendem o porquê da distância, duma máscara a ocultar uma cara à muito desejada rever, momentos recheados de emoções fortes. No caso da minha mãe, por encontrar-se com uma doença neurológica degenerativa, teve muita dificuldade em reconhecer-me, algo difícil de gerir emocionalmente mas com muita aceitação visto ser o ciclo normal que infelizmente esta doença tem. No entanto, mais que a parte neurológica, fiquei imensamente chocada com a sua parte motora, pois antes da quarentena ela encontrava-se com esta parte ativa e atualmente encontra-se numa cadeira de rodas sem capacidade para andar. Mais que chocante, é inaceitável a situação visto que, ao longo do período interdito a visitas, uma das minhas grandes preocupações era assegurar-me que a minha mãe fizesse as suas caminhadas diárias e esse foi sempre o feedback que positivamente me transmitiam. Com o passar dos dias e como eram frequentes os meus contactos para a instituição, fui-me apercebendo que essa não era a realidade e que ela estava passando vários dias acamada com a justificação da falta de pessoal auxiliar e de enfermagem para prestar estes serviços mínimos e portanto fazer os tão necessários levantes diários. Logo depois, um plano de contingência foi aplicado, e todo este panorama agravou-se, havendo mais ainda uma redução das equipas internas e consequente uma excessiva carga horária de trabalho para todos. Quem acham que foram os lesados desta história? Ora aqui está o ponto em que quero focar e perguntar diretamente à sra. secretária regional da Inclusão e Assuntos Sociais, que planos tem para a melhoria destes serviços? Faz parte da sua secretaria incorporar e reforçar estas equipas de trabalho nos lares públicos, visto haver uma grande lacuna de pessoal auxiliar e de enfermagem? Como é que se pode passar uma imagem nos meios de comunicação social que os serviços nos nossos lares estão salvaguardados, quando há velhinhos a piorarem as suas condições dia para dia porque não há suficiente mão-de-obra? Quantos utentes mais necessitam demonstrar um decréscimo das suas habilidades para que algo seja feito? Nós não podemos culpar os que estão na linha da frente dando o seu melhor e trabalhando horas extras, porque a esses nós, os familiares, estamos muito gratos pelo que fizeram e continuam a fazer arduamente. Mas podemos sim culpar os órgãos superiores de poder e decisão que nada têm feito neste sentido. É urgente um reforço imediato de pessoal nos serviços de saúde dos lares da nossa Região, é urgente focar atenções para estes seres que são o pai ou uma mãe, um avô ou uma avó de alguém. Alguém este que, por inúmeras razões pessoais, infelizmente não puderam ficar a cuidar deste familiar querido e deixaram a cargo nestas instituições confiando que aí iam ser protegidos e iam zelar sempre pela sua saúde, integridade física, bem estar e longevidade. Neste momento, a minha mãe é um exemplo entre muitos outros por esses lares além, que perdeu a atividade motora dos membros inferiores e que lamentavelmente apesar das tentativas, os resultados de melhoria mostram-se infrutíferos e de panorama irreversível. Finalizo, relembrando uma das grandes lições que este Covid-19 veio ensinar-nos, que foi mostrar ao mundo que devemos investir, valorizar e reforçar mais em todos os serviços, instituições e profissionais de saúde.