Filhos de um Deus menor

Aconteceu há 45 anos. Angola preparava-se para ser independente, e nesse ano de 1975, Portugal teve pela 1ª vez na sua história o dever de recolhimento obrigatório, apenas na região de Lisboa na data de 25 de Novembro. Nessa altura, parte do Batalhão 4911/74 tinha já regressado às suas origens. Foi um regresso com honra, mas sem glória, marcado apesar de tudo pelo dever de missão cumprida e de obediência ao Estado Português, como aliás foram a de todos os contingentes das F.A. em todas as ex-colónias Portuguesas. Há 45 anos por estes dias, a nossa vida civil recomeçava de novo, enquanto o País rejubilava de esperança com as novas políticas democráticas que a Revolução de Abril nos presenteara. Mas, passado todo este tempo, é fraca e muito ténue a expressão humanitária e de reconhecimento aos seus heróis Nacionais através dos sucessivos Governos. Muitos dos que regressaram para uma nova etapa da sua vida já não estão entre nós, e os que ainda sobrevivem, onde felizmente me incluo e resisto, fazem parte de um grupo de cidadãos aposentados e definitivamente remetidos à sua condição humana. Agora resta-nos, em sintonia, e de mãos dadas com um pequeno grupo de camaradas e amigos, podermos a cada ano comemorarmos, na medida do possível a nossa existência o que vem acontecendo desde há sete anos a esta parte, e deste modo partilhando amizade e uma moderada alegria, que ainda assim é possível esboçar. E é nesta guerra de sobrevivência pela vida que, lenta ou bruscamente, a detioração da saúde, o infortúnio e, ou a viagem eterna, tem chamado a si muitos destes esquecidos combatentes, sem que o Estado Português tenha de concreto e em tempo certo, feito algo de reconhecido interesse ou de importância maior para com estes “Filhos de um Deus menor”. Assim sendo, constata-se que ainda hoje é pouco claro na lei o que verdadeiramente contempla o Estatuto do Antigo Combatente, enquanto que, a nível Regional é também nestes moldes, de menor importância ou pouco afirmativa, a existência e funcionamento de um Núcleo da Liga dos Combatentes. Sei, no entanto, de uma muito positiva actividade por parte do Sr. Coronel – Padre Capelão – António Simões, que há muito vem desenvolvendo um trabalho de pesquisa, aproximação e ajuda, extensível a todos os ex-combatentes, através de registos individuais e de convívios que de certa forma dão voz, ânimo e alguma esperança a todos os intervenientes. Um bem-haja.

Vicente Sousa

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