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70/71

Era em Outubro!

O início do fim de um ciclo, o começo da preparação de um outro.

O último ano do Liceu preparava, ou a entrada na Faculdade para uns, o começo do trabalho para outros, ou a tropa, pois havia guerra colonial naqueles dias!

1970 foi (já cinquenta anos?), para um grupo de estudantes do Liceu de Jaime Moniz, um ano importante.

Finalmente finalistas, finalmente Setimanistas!

Chegar ao 7ª ano do Liceu com 16 anos não era coisa fácil. A maioria andava pelos 18, 19, 20 anos, ficando os de 17 anos na charneira. Os do 1º grupo não seriam mais de uma trintena entre os cerca de 170 que aí chegaram. Os mais novos eram quase que as mascotes do grupo, a querer crescer para se chegar aos mais velhos, já com outra experiência e traquejo nas artes da vida académica liceal.

Muitos já se conheciam de anos anteriores, colegas de percurso com as agruras próprias dos tempos de liceu (na altura “chumbava-se”, quer dizer, havia uma menor permissividade para a passagem do ano lectivo, com critérios necessariamente diferentes dos actuais, que foram evoluindo (?) com o correr dos anos, fazendo com que a cerca de trintena já descrita fossem os que fizeram um percurso de 7 anos de Liceu limpo, isto é, sem “chumbos”), outros foram conhecendo-se por ali, outros só privaram mais tarde, todos com um sentir comum: éramos do Sétimo Ano de 1970/71, essa cola que nos foi grudando ao longo dos anos.

Ser Setimanista!

Era uma meta a atingir, um passo antes da saída do conforto caseiro, antes da aventura da ida para a Universidade, para Lisboa, Coimbra ou Porto para uns, ou o início de uma nova etapa no chamado mercado de trabalho para outros (ou tropa!), mas era também, principalmente, um ano de intensa ligação entre todos (não sei se em outros anos ou noutras paragens também foi assim, mas o correr do tempo fez ver quão importante foi o Sétimo Ano para muitos dos 70/71), um ano que serviu também para, entre muitos de nós, se consolidarem alicerces fundamentais para que a vida fosse encarada com a esperança e o optimismo próprios da juventude e dos seus sonhos..

A Benção das Capas era logo no início do ano escolar, em Outubro, depois o Baile da Madrinha, as idas à “boite”, de fato e capa aos sábados à noite, a preparação do ginásio do Liceu para o dia 30 de Novembro, dia do Baile de Gala, acontecimento social mais importante do ano. Quantas e quantos (bem, eles nem tanto!) tiveram a sua primeira saída noturna prolongada nesse dia! Enfim, um fartote de confraternização e diversão, das quais saíram amizades, amores, uns a começar outros a acabar, outros a não passarem de promessas não concretizadas, e alguns tão sólidos que perduram até hoje!

E a excursão!

A excursão era esperada com ansiedade, faziam-se planos, combinavam-se arranjos de quartos e, chegada a hora, partilhavam-se aventuras, com os rapazes a protegerem as raparigas de investidas mais audazes dos autóctones dos locais por onde andávamos. E eram os mais velhos a protegerem também os mais novos, firmando ali cumplicidades que a vida se encarregou de cimentar. Connosco foram Professores de grande craveira educativa que limitavam excessos sem limitar liberdades, tornando a nossa viagem inesquecível.

A vida seguiu os rumos de cada um, uns foram para a Faculdade, para Letras, para Ciências, para Económicas, Direito, Medicina, Engenharias ou outros, seguindo os seus gostos, desejos, sonhos, outros ainda começaram de imediato a trabalhar fruto da necessidade ou do querer.

Todos seguiram as suas vidas, uns regressaram à ilha, outros ficaram no continente, espalhados pelos cantos de Portugal, mas quase todos mantiveram uma união emocional ao Sétimo Ano de 1970/71. Essa união em amizade é comemorada anualmente no dia do Baile de Gala – 30 de Novembro, para os que estão na Madeira, quando nos juntamos num jantar em que todos, apesar de já falarem dos netos, mantêm o mesmo espírito jovem e jovial que só a amizade de longos anos consegue preservar.

Já partiram alguns, muitos, demasiados (mesmo que fosse um só seria demasiado!), deixando a saudade sempre lembrada nos encontros que se vão mantendo em ambos os lados do Atlântico.

Nesta altura em que muitos jovens iniciam também o seu trajecto finalista, tenho a certeza que os 70/71 desejam-lhes tanto como o que têm recebido desde esse 70/71: amizade e partilha. Partilha de emoções, de realizações, de pertença com gosto e carinho.

Por mim e, estou seguro, por muitos, muito obrigado a todos os 70/71’s, com os votos que os jovens que estão na mesma fase tenham fortuna semelhante!

Força no andor (para mais 50?)!

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