A sustentabilidade da Madeira vai a votos
Deixem-me expressar a minha indignação com a decisão dE construir mais uma estrada que rasgará a floresta Laurissilva
Este mês fomos surpreendidos com a intenção do presidente americano querer comprar a Gronelândia, como se fosse habitual, no século XXI, um país comprar uma nação, tipo uma “Oferta de compra acionista” feita a uma empresa, onde se adquire o seu património, a lista de clientes, os empregados e a sua estratégia futura. Ou seja, tentar adquirir uma nação, passando a possuir o seu território, a fidelizar o seu governo, a mudar compulsivamente a nacionalidade dos seus cidadãos, a sua cultura Viking e Tribal ancestral, para além dos seus recursos naturais. Isto, claro, para poder explorar com avidez o seu petróleo, gás e minérios, mudando o atual paradigma da Gronelândia centrado na pesca e no potencial turístico de uma região imaculada, como eu próprio pude comprovar uma viagem recente ao território.
Os governos da Gronelândia e da Dinamarca disseram que não têm nada para vender e apelidarem a ideia de absurda. Aliás, a Dinamarca é líder mundial nas energias renováveis e tem uma louvável pegada ambiental, resultados de décadas de consensos ambientais entre sociais-democratas e democratas-cristãos. Mas Donald Trump faz uma espécie de birra, quebra os compromissos assumidos e deixa uma péssima imagem, daquele que foi o garante da paz e da prosperidade do mundo ocidental, os Estados Unidos.
A Gronelândia é a maior ilha do planeta. Uma das regiões com menor intervenção da mão humana, apesar de estar a sofrer pelo degelo devido ao aquecimento global e poluição que chega dos céus do hemisfério norte industrializado. Compartilha com a Amazónia o estatuto de uma das maiores fontes de água doce não poluída do planeta, como salientou recentemente o Secretário Geral da ONU.
Mas a deriva global do ambiente e da sustentabilidade dá que pensar. Atente-se, por exemplo, na postura nacionalista e anti-ambiental do presidente brasileiro, que está a originar o maior ciclo de incêndios florestais, neste que é considerado o “Pulmão Verde” do planeta, a Amazónia, a floresta que mais produz oxigénio. Uma avaliação da NASA comprova a ligação causal entre a estratégia de desflorestação e estes fogos.
A globalização estimula essa desflorestação, pastagens e cultivos para satisfazer a procura por produtos como a carne e a soja. Jair Bolsonaro faz “tábua rasa” dos acordos assinados pelo seu país, nomeadamente o Acordo de Paris, expondo-o às sanções sugeridas pelos governos europeus, muito mais doutrinados em boas práticas ambientais.
Como se não bastasse, o mesmo está a acontecer na Sibéria, onde a tundra, recém exposta pelo degelo do ártico, arde. O controlo com “Mão de ferro” de Vladimir Putin, não deixa transpirar a sua verdadeira dimensão, mas já estamos habituados aos países ditos neocomunistas, com um perfil ambiental tenebroso, e de que Chernobil é um exemplo paradigmático. A impunidade dos fogos nestes dois países é pois por demais evidente.
Alguns pensam que estas insanidades são coisas longínquas. Deixem-me expressar a minha indignação com a decisão do Governo em construir mais uma estrada que rasgará a floresta Laurissilva, entre as Gingas e os Estanquinhos, no Paul da Serra. Miguel Albuquerque, que governa uma região que gasta 134 milhões de euros anuais em produtos petrolíferos e só 30% da energia elétrica tem fonte “verde”, diz que avançará com esta obra “Doa a quem doer”, apesar dos recentes alertas da UNESCO. Mais uma vez, o alcatrão cobre o manto verde na Madeira, mesmo que tal não tenha um evidente propósito económico.
Não posso deixar de lamentar o facto de certos partidos auto-intitulados ambientalistas e defensores da causa animal, se terem remetido ao silencio cúmplice sobre este assunto tão grave, preferindo em vez, como aconteceu recentemente na RTP Madeira, desculpabilizar Alberto João Jardim pelos seus atentados ambientais, seja nas marinas inúteis, leitos das ribeiras e nas serras da Madeira.
Repito: a Humanidade foi sempre capaz do melhor e do pior. Do pior, pelos líderes que a cada momento escolhe. Do melhor, pela democracia que permite afastar ou condicionar os mesmos.
No próximo dia 22, a Sustentabilidade da Madeira vai a votos!