Eleições
Todas as moedas têm duas faces. A do CDS, de um lado, tem uma feia imagem de quem engole repugnantes sapos
Uma parte substancial dos eleitores é filiada ou simpatizante de partidos políticos. Os partidos são máquinas de conquista de poder e funcionam com base em ideologias e plataformas políticas. Tal facto motiva que os aderentes, filiados ou simpatizantes, embora possam ter preferências e idiossincrasias próprias, tenham tendência a seguir e fazer o que preconizam os partidos.
Esse respaldo ideológico, chamemos-lhe assim, permite aos eleitores individualmente agirem como se fossem razoavelmente informados. Apesar de muitos dos votantes (e não votantes) não terem uma compreensão razoável daquilo que os diversos partidos políticos pretendem fazer.
A maior parte dos eleitores nunca leu os programas dos partidos em que vota. Muito menos, os programas dos outros partidos.
Mesmo que o fizessem, o resultado seria dificilmente melhor porque muito poucos possuem o conhecimento político, económico e sociológico para avaliar devidamente as boas ou más consequências que pudessem advir de por na prática o que é enunciado nos programas políticos.
Mesmo considerando que há quem possua esses conhecimentos, a capacidade de escolha dos executantes está limitada aos elementos previamente escolhidos pelas cúpulas partidárias e que fazem parte das respectivas listas.
Por outro lado, os partidos políticos, não raras vezes, escolhem candidatos que julgam ser apelativos para o votante comum.
A grande maioria dos eleitores não segue doutrinas políticas extremistas, nem de direita nem de esquerda. Por tal facto, mesmo partidos/candidatos de extrema-esquerda ou de extrema-direita, em tempo de campanha eleitoral, adaptam o seu discurso para “pescar” ao centro, onde se encontra o grosso do eleitorado.
Espera-se que a democracia dê voz igual a todos os cidadãos. Evidentemente que esse objectivo é impossível de alcançar.
Acabámos de viver um período eleitoral e iniciámos outro. É provável que a situação referida acima se repita.
Entretanto, há um impasse. O PSD ganhou por escassa maioria. Quem efectivamente ganhou as eleições foi o CDS que, apesar de ter perdido muita força, encontra-se na posição de poder decidir quem forma governo, uma vez que o JPP já declarou não estar disponível para se coligar com o PSD. O PS, apesar do extraordinário resultado e do esforço efectuado, arrisca-se a morrer na praia.
Porém, todas as moedas têm duas faces. A do CDS, de um lado, tem uma feia imagem de quem engole repugnantes sapos. Após mais de quarenta anos a aturar desaforos, tem de apelar a toda a sua força de vontade para os esquecer. Na outra, tem a imagem de quem trai os seus princípios a troco de benefícios, por muita retórica que utilize para dourar a pílula. Situação difícil de gerir.