Desafios em educação musical
Quase noventa comunicações, sete oficinas, quatro mesas redondas e três sessões plenárias que constaram da Conferência Internacional do Centro de Investigação em Psicologia da Música e Educação Musical (CIPEM), que, sob o título “Desafios em Educação Musical”, decorreu no Porto na semana passada, deram a conhecer, através de contribuições de investigadores de dezoito países, algumas das principais preocupações e tendências no ensino de música, desde a música nas escolas até à música na comunidade, de leigos a profissionais, abordando também a ligação entre a música e outras artes e a ligação entre a música e a sociedade.
Propriamente neste último sentido, a particular atenção foi dada a três convidados ilustres que começaram cada um dos três dias da Conferência com uma sessão em que se debruçaram sobre algumas das questões mais desafiadoras para o ensino da música em contexto da atualidade e novos paradigmas de interação.
Beatriz Ilari, da Universidade do Sul da Califórnia em Los Angeles, questionou a possibilidade da convivência harmoniosa e pacífica diante de um futuro incerto em que a educação musical possa contribuir para o desenvolvimento dos comportamentos pró-sociais, visando sempre o benefício que eles podem trazer para outras pessoas, ajudando, compartilhando, confortando e cooperando. Apresentou neste sentido dois programas coletivos de ensino musical desenvolvidos nos meios sociais desprivilegiados em Los Angeles, demonstrando como a música claramente pode contribuir para o desenvolvimento dos comportamentos pró-sociais na idade escolar.
Já o escocês Raymond MacDonald, da Universidade de Edimburgo, apresentou a improvisação musical como uma capacidade que pode ser compreendida como uma ação social, com implicações para a educação, a terapia e a psicologia do comportamento social.
Finalmente, Estelle Jorgensen, da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, tentou contextualizar as tarefas imediatas colocadas à frente de um professor de música, no quadro geral do nosso quotidiano, abalado pelas mudanças tecnológicas, migrações populacionais e globalização pervasiva, em que as contribuições dos educadores estão a ser desvalorizadas e os professores de música se sentem marginalizados.
Todas as três intervenções acabaram por identificar algumas qualidades do professor e do ensino que podem ajudar para enfrentar os desafios e reforçar a contribuição que a educação musical pode fazer para o bem-estar da sociedade, independentemente das condições socioeconómicas ou do clima político: focar o ensino e a aprendizagem na humanidade; salvaguardar o melhor das tradições num mundo sempre em mudança; criar espaços para ação individual e coletiva em prol do bem; cultivar maneiras para melhorar a cultura e a sociedade; viver a multiculturalidade desde a infância como um catalisador para os comportamentos pró-sociais; utilizar competências adquiridas através da música para o desenvolvimento do pensamento crítico e interação social.
Nesse contexto, não foi por acaso que foram entusiasticamente aclamadas as três comunicações (Paulo Esteireiro, Carlos Gonçalves, Natalina Cristóvão) que constaram da mesa redonda dedicada aos projetos desenvolvidos no âmbito da educação artística na Região Autónoma na Madeira, a ponto de terem surgido iniciativas para viagens de estudo de colegas investigadores de outros países para conhecer a realidade e prática da educação musical na Região: na sua globalidade elas demonstraram que estes projetos, desenvolvidos durante as últimas décadas, não só que já inerentemente tinham em conta esses preceitos teóricos mas também possibilitaram a sua plena concretização.