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A Democracia é... aquele abraço

Hoje é o dia D, o primeiro dia depois das eleições. Escrever sobre resultados antes do povo decidir é próprio de astrólogo barato ou bruxo rasca.

Acompanhei pela comunicação social , os 17 combatentes que fizeram uma campanha de gritaria e/ ou promessas do tipo bacalhau a pataco!

Falou-se do piriquito e do gato do género dos anjos, do sofrimento das plantas que são devoradas por ingratos seres humanos.

Filhos de fascistas e burgueses latifundiários apareceram a dizer Chega a esta democracia, eles preferem Salazar. Juntaram-se ex vendedores de avantes com os velhos senhorios uma excelente aliança em nome do trabalho.

Os marxistas albaneses juntam-se aos trotsquistas, deixam de ser anti revisionistas para ser fofinhos sociais democatas e lacaios de Cafofo e Costa.

O namoro, azulinho, uns dias estavam adocicados laranjas outros dias cheiravam a rosas porque era chegado o momento de patilha do poder.

Os Meninos Rabinos Pintores de Paredes, agora e sempre com o símbolo da foice e o martelo ,e ao som da Internacional, foram somando o dinheirinho dos votos e tramando os «sociais fascistas» do PCP.

Os pirilampos, tanto foram do PS ,como do dito partido da Terra, agora são daquela coisa do RIR, o que é preciso é tacho. Budistas confessos, antes animalistas aproveitam o vazio do buraco negro e tomaram conta do MPT.

Sabem os madeirenses que durante esta batalha eleitoral mais de duzentos funcionários do Serviço Regional de Saúde, abandonaram legalmente as suas funções de apoio aos doentes para lutar não sei para quê.

Tenho saudades dos grandes estadistas europeus, de direita, do centro e da esquerda, de Gaulle, Miterrand e Marchais em França, de Aldo Moro e Berlinguer , em Itália, gente que combatia democraticamente ideologias diferentes, tão necessárias e hoje esquecidas.

Há alguns anos estava na Bolívia, de Morales, impossibilitado de viajar para Iquique porque tinha havido um terramoto violento no Chile. Também não podia sair de La Paz porque as principais vias de saída da cidade estavam bloqueadas pelos mineiros em greve. Fiquei mais dois dias na cidade até apanhar um avião para o Salar de Uyuni. No pequeno hotel, um sujeito da minha idade, mas com aparência de mais gasto pela vida, olhou para a minha companheira e achou-a parecida com a então presidente socialista do Chile. O homem assumiu-se de direita, levantou o braço e estendeu a mão com uma saudação fascista. Achei piada e para o enervar, disse-lhe que era comunista, o que fez que o boliviano se passasse dos carretos...Para abrandar a discussão pedi-lhe um abraço. Ele hesitou, mas depois abraçou-me. O hotel, cheio de jovens europeus que tinham assistido ao debate...Findo o abraço, olhei para o meu adversário político, que não inimigo, e disse-lhe: «A Democracia é como um abraço , é preciso o corpo, o braço direito e o esquerdo».