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Ranheta e Facadas

O objectivo é acenar um rebuçado fácil nesta época eleitoral em vez de propostas sérias e viáveis

Quando Donald Trump ganhou as eleições, surgiram alertas de manipulação da opinião pública, via redes sociais, para justificar a derrota da sua adversária Hilary Clinton. Mais tarde, o tema voltou insistentemente à baila com o resultado do referendo de que resultou o Brexit. Algum tempo depois, o escândalo Facebook-Cambridge Analytica acabou por confirmar que havia “alguma coisa” incorrecta ou inadequada nos tratamentos de dados dos utilizadores do Facebook.

No momento político regional que vivemos, temos as redes sociais a funcionar à nossa dimensão. Eles são perfis falsos, notícias fabricadas, indicadores económico-financeiros incorrectos, insinuações da mais diversa ordem. Assim, os nossos Ranheta e Facadas, cada um de seu lado, lutando por entrar e/ou por não sair, dão largas à imaginação e criatividade na elaboração de imagens que levem o cidadão menos atento a expressar a sua revolta pela “injustiça denunciada”. Tanto um como outro, por exemplo, apresentam fotos de adversários com reformas interessantes ao lado de um coitado de reforma mínima. Ranheta e Facadas insurgem-se contra a diferença de valores. Mas nenhum deles, ainda colocou a questão: quantos anos descontaram, cada um dos visados? Qual o valor das contribuições de uns e outros? É que as reformas são pagas em função do tempo e dos descontos efectuados. Mutatis mutandis, imagino ver o Ranheta e o Facadas chegarem ao banco e lhes dizerem que a sua conta bancária foi reduzida para beneficiar um concidadão com saldo médio inferior ao deles... Agora, se apresentassem propostas de soluções sociais e estabilidade financeira das instituições que gerem as contribuições para o futuro... Mas não, o objectivo é acenar um rebuçado fácil nesta época eleitoral em vez de propostas sérias e viáveis: defender um tecto para as reformas, como acontece na Suíça, o combate adequado à subsidiodependência, etc. Por exemplo, acabar com os desempregados profissionais que chulam literalmente os contribuintes pagantes, recebendo verbas indevidas, enquanto andam nos biscates prejudicando os que os alimentam com os seus impostos e contribuições, numa concorrência desleal e prejudicial à economia. E, então, com as poupanças resultantes desta “limpeza” proceder-se a uma redistribuição junto daqueles a quem a vida foi madrasta, por qualquer fatalidade, doença, acidente ou outro.

(Aproveito para prestar homenagem aos nossos emigrantes que tiveram de regressar da Venezuela. Hoje, em qualquer estabelecimento comercial, é muito comum ouvir-se o sotaque venezuelano. As pessoas chegaram e foram à procura de trabalho e arranjaram. Muitos dos nossos desempregados profissionais andam há anos à espera que lhes caia a sorte grande no regaço. E o erário público a alimentá-los...)

Ranheta e Facadas, admiro, de facto, a vossa imaginação e a criatividade artísticas. Mas antes de publicarem, ponderem o conteúdo da mensagem política subjacente.

Um dia, o feitiço vira-se contra o feiticeiro. E é o descrédito total!

A não ser que os dois sejam os sócios comanditados na Cocó, Ranheta & Facadas, Sociedade em Comandita!