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Tudo tem um fim

Este é o meu último artigo. Recentemente, ao folhear os arquivos digitais do Diário de Notícias da Madeira, encontrei o texto que iniciou esta minha colaboração mensal. Publicado a 21 de setembro de 1999, com o título “Ambiente ou Protagonismo?”, a minha estreia na secção Opinião & Debate acusa a pressão e a perseguição sentida por quem, nos tempos áureos do Jardinismo, reunia coragem para apontar um caminho diferente. Na próxima semana terão passado 20 anos. É muito tempo. Demasiado. E é por isso que decidi encerrar este caminho, porque há muito outros para percorrer e a vida deve ser com diversidade. Reproduzo o texto que iniciou esta colaboração ao longo de duas décadas para que, dessa forma, se feche o ciclo e, mais uma vez, se evidencie, pela atualidade do seu conteúdo, o quanto são lentas as mudanças.

“Ambiente ou Protagonismo?

Nas atuais sociedades desenvolvidas o ambiente foi eleito como prioridade. Até mesmo alguns políticos da Região Autónoma da Madeira, nos últimos meses, deixaram de considerar a defesa do ambiente como um entrave ao desenvolvimento e elegeram-na a sua “paixão”.

Para chegar à situação atual, em que alguns esgotos começam a ser tratados, algum lixo a ser recolhido seletivamente e a floresta indígena a ser considerada como um valioso património, foi necessário um grande esforço da parte de algumas pessoas, mais conhecidas por todo o mundo como ecologistas e ambientalistas.

Apesar das importantes conquistas conseguidas para o planeta Terra, tanto no passado como no presente, sempre que estes cidadãos preocupados com o ambiente referem situações de degradação do meio têm logo que enfrentar o poder político e económico, juntamente com os seus cegos seguidores bem posicionados nos diversos sectores da sociedade. Os argumentos utilizados nestes ataques são universalmente conhecidos, mas não é por isso que deixaram de ser utilizados. Embora rotulados de fundamentalistas e acusados de procurarem protagonismo individual, têm resistido à perseguição e conseguido implantar as suas ideias, trazendo com isso grandes benefícios para a sociedade e para o Planeta. Na verdade, estes agentes sociais têm conseguido, embora com muito esforço e sacrifícios pessoais, que a questão ambiental tenha cada vez mais protagonismo e seja considerada fundamental para a nossa sociedade.

Se a denúncia dos atentados ambientais e a sensibilização da população é considerada protagonismo individual, que nome podemos dar à atitude de arrastar a comunicação social para um passeio na praia do Porto Santo em plenas férias? É necessário que toda a sociedade abra os braços à causa ambiental e uma forma de o fazer é simplesmente respeitar o trabalho voluntário daqueles que defendem e que lutam para um bom ambiente.

Mesmo com a inércia provocada pela máquina dos que não querem uma região melhor e apesar da falta de meios à disposição das Organizações Não Governamentais de Ambiente, os ecologistas não deixarão de dar a sua contribuição para que a redução da produção de lixo seja uma realidade, para que a recolha seletiva seja feita de uma forma expressiva e alargada, para que a nossa floresta não seja sistematicamente atingida pelos incêndios e pelo gado devorador, para que a água seja realmente pura e para que o ar que respiramos seja fonte de vida e não de doença. As Associações de Defesa do Ambiente não deixarão de avançar com o processo de mudança de mentalidades e comportamentos, imprescindível para a conquista de uma boa qualidade de vida e de um ambiente cada vez melhor.”

Estou grato ao Diário de Notícias da Madeira pelos 20 anos que amavelmente me concedeu para, livremente, expor e amadurecer a minha opinião. Agradeço também aos leitores que me acompanharam, no seu todo ou em parte, ao longo destas duas décadas.