Crónicas

Travar a fundo a violência

O Obrigado parece coisa do passado e então o “dá licença” ou o “peço desculpa” são umas raridades

A Região tem problemas graves de instrução e de educação. Se o primeiro está identificado e tem consequências devastadoras na nossa produtividade e competitividade e é fator de exclusão social, nomeadamente quanto às fracas qualificações dos nossos recursos humanos e o abandono escolar precoce, o último parece ser uma fatalidade dos tempos modernos em que se perdeu o respeito pelas pessoas e pelas instituições. Há indivíduos com poucas habilitações, mas que sabem estar em qualquer lugar, respeitando todos, enquanto outros têm muita instrução, mas deixam muito a desejar em termos de educação. É particularmente gritante o que se passa com a desvalorização dos mais velhos na nossa sociedade e a forma como os mais jovens os tratam, mesmo quando são familiares. Mas, o problema é mais vasto e sem abordar todas as causas e consequências, julgo que o cerne da questão está na desestruturação das famílias, na indisciplina nas escolas, na revolução digital anárquica e numa certa banalização do mal e da violência nos tempos que correm. Veja-se o que se passa com os jogos eletrónicos e está tudo dito: luta, guerra, morte. Oiça-se as letras de muitas músicas das de bandas ditas de culto e percebemos o que por aí campeia. Leiam-se os insultos e ofensas que muitos escrevem nas redes sociais, sob a capa do anonimato, e temos um espelho da comunidade onde vivemos. Mesmo os que dão a cara confundem Liberdade de Expressão com liberdade de difamação.

O Obrigado parece coisa do passado e então o “dá licença” ou o “peço desculpa” são umas raridades. “Ela está a ser paga para trabalhar” “não tenho que agradecer porque estou pagando” ou “não fazem mais que o seu dever”, são expressões que, com frequência, se vai ouvindo para desvalorizar o ato de reconhecer o trabalho dos outros. O novo-riquismo saloio tomou conta do espaço público e a ostentação prevalece sobre a educação. Quantas vezes um Sorriso, um simples agradecimento, fazem toda a diferença e valem mais que mil palavras e são a melhor de todas as motivações!

Perdeu-se a dignidade e o respeito do mais novos para com os mais velhos, dos filhos para com os pais, dos netos para com os avós, do homem para com a mulher e por aí fora, atingindo todos os graus familiares. Ninguém dialoga, ninguém procura compreender o outro e prevalece o egoísmo.

Os resultados estão à vista e são alarmantes, com uma subida vergonhosa da violência sobre as mulheres, os idosos e as crianças. O ano ainda vai a meio e já entraram na Comarca da Madeira 243 novos casos, sendo que transitaram do ano anterior 311. Cada número destes é um drama para uma pessoa e para a família, sendo que algumas mulheres já pagaram esta violência com a própria vida. Este é um flagelo que atravessa todas as classes sociais e que parece não ter um travão à vista, mostrando como a nossa sociedade está doente. A maior penalização dos infratores é um caminho que pode e dever ser prosseguido, assim como uma maior articulação da Justiça e das Instituições no Apoio à Vítima, mas o verdadeiro trabalho que está por fazer é na educação na família, na escola e na universidade, pois muitas destas situações estão associadas a dependências de drogas, de alcoolismo e de doenças mentais. Quando se sabe que a violência atinge números elevados entre os namorados e que uma parte das vítimas até considera isso normal, então há razões para estarmos assustados com a comunidade que estamos a construir. Há muita coisa a falhar na educação apesar da instrução dos nossos jovens ser cada vez maior.

Temos que combater por todos os meios esta Cultura da Morte que se instalou nas nossas sociedades e que mina a formação dos mais jovens. A educação para a cidadania tem que ser uma das prioridades do ensino, bem como a formação para a tolerância para com as diferenças e travagem de todas as formas de violência.

Apesar de tudo, há razões para ter esperança quando vemos estes movimentos em defesa do Ambiente e contra as alterações climáticas, protagonizadas por jovens que estão preocupados com o presente e futuro da Humanidade e que estão dispostos a lutar para que os políticos e empresários tenham em conta os ecossistemas quando tomam as decisões. Mas aqui cada um de nós também pode fazer a diferença, reduzindo a produção de lixo, não usando plásticos, reutilizando sacos e embalagens, fazendo a separação dos lixos, reciclando produtos, poupando energia, não sujando o espaço público e reduzindo a nossa pegada carbónica. O Importante é Fazer e este é o Momento!