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Eleições e ruído

Em ano de eleições vale tudo. Já sabemos, e por aqui na Região já não há muito que inventar. O turismo brinda-nos com procura crescente, em quantidade e qualidade. Ao mesmo tempo, as estatísticas falam-nos em quebras, quer em termos de números quer de rendimento gerado. Em que ficamos? Ficamos que é ano de eleições, e que não interessa que o público saiba a verdade, precisa apenas de ter conhecimento da ficção cor-de-rosa que permite a espectativa de continuidade...

Ao mesmo tempo vai-se assistindo a uma proliferação de festivais, concertos, arraiais, ralis e trails que é para mim muito difícil de explicar. Tenho um defeito: preciso de dormir. E não percebo, por exemplo, porque é que as novenas de São João têm de ser difundidas por altifalantes, e porque é que as festas do bairro se prolongam ao longo de dias até de madrugada. Não percebo como se autoriza uma festa ruidosa mesmo à frente do hospital.

Porque entrar no jogo do ruído, e da festa, é esquecer-se que a maior parte dos que nos visitam ainda vêem a ilha como um destino de calma e natureza. Porque a percepção de um destino calmo ainda existe, e é promovida, não conseguimos atrair festivaleiros, mas o ruído gerado pelas festas incomoda os que vieram procurar calma e natureza. Quem promove a proliferação de ralis e trails esquece que a ilha vive do turismo, e que convém proteger quer as empresas que o ano todo geram rendimento e emprego para a ilha (e que nestes dias têm de cancelar percursos, ou gerir reclamações, e a degradação da imagem).

A diferenciação implica opções, idealmente comuns e participadas, e depois de estabelecida implica um esforço por se manter num mesmo ideal, coerente – de forma a poderem criar-se espectativas, e satisfazê-las. Deixando os mercados satisfeitos, e alimentando o word of mouth positivo.