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Dias do Fim

A legislatura regional aproxima-se do seu epílogo e a solidão inunda os corredores da Quinta Vigia, interrompida apenas pelas arregimentadas investidas comensais, pagas com recursos públicos, na messe de campanha eleitoral do partido que tenta manter-se no poder a qualquer custo. Estes longos 52 meses de letargia começaram com a euforia da esperança em novas políticas perpetradas por novos actores e terminam com a prometida renovação reduzida a uma ideia falhada em que o único sobrevivente é o seu primeiro subscritor. Uma sobrevivência piedosa e a prazo, urdida pelos próprios correligionários que, para evitar embaraços maiores, preparam-se para comutar-lhe a pena política para um exílio em Lisboa, na Assembleia da República.

Entre os feitos que se reconhecem a este governo, contam-se (i) um modelo de subsídio de mobilidade aérea que nos esmifra a carteira em adiantamentos e encareceu a vinda à Madeira para todos os que nos queiram visitar; (ii) a degradação de um serviço regional de saúde, alternativa única para quem não tem possibilidade de ir a consultas ao continente para “a máquina ser vista”; (iii) a opacidade nos critérios para o encerramento de escolas, com insinuações persecutórias a conselhos executivos ‘não alinhados’; (iv) uma sofrível comemoração dos seis séculos da descoberta do arquipélago a deixar-nos a todos a desejar que Zarco e Tristão tivessem cá chegado uns anos depois; (v) o atentado ao património histórico materializada pela destruição de pontes e betonização de muralhas centenárias e o (vi) o record absoluto de impostos cobrados por um governo.

De resto, fica a tentativa de transformar a Assembleia Legislativa da Madeira num tribunal de justiça sumária, com a multitude de comissões de inquérito, imaginadas plenipotenciárias e supraconstitucionais, com o propósito de caucionar a “verdade oficial” do partido que sustenta o executivo. Nem Orwell faria melhor. Para a história ficará também a gritante inabilidade em utilizar os instrumentos autonómicos de que dispomos para melhorar a qualidade de vida dos madeirenses, reduzindo a autonomia a uma mera arma de arremesso político contra a República, apontada no discurso oficial do partido que sustenta o governo e seus desejados parceiros, como bode expiatório da incapacidade governativa regional.

Apesar das insistentes desculpas para a inação, que nem o falacioso indicador de crescimento económico perpétuo, criado para propaganda interna, consegue mascarar, o insucesso da governação media-se pela permanente instabilidade no elenco governativo. A cabal demonstração evidencia-se na inédita substituição de cinco secretários, dispensa de uma dúzia de directores regionais, nalguns casos com contornos humilhantes, trocas nos conselhos de administração de institutos e empresas públicas e a infindável dança das cadeiras de chefes de gabinete, adjuntos e técnicos especialistas, vulgo assessores.

Se a performance governativa deixa muito a desejar, no campo das atitudes as expectativas de que a ‘renovação’ traria uma maior elevação à vida política esvaem-se na desilusão. Aliada à baixeza discursiva pouco institucional de quem designa os adversários por ‘pategos’, ‘idiotas’ ou ‘fantoches’, estão atitudes persecutórias àqueles que não se enquadram no perfil de socialização em consanguinidade partidária. Ou seja, pouco ou nada mudou.

Em suma, este mandato constitui, para qualquer potencial governante, um compêndio de erros a evitar e, para todos nós, a memória viva de que afinal continua tudo na mesma. Não fossem os municípios, ainda que debaixo de fortes boicotes, a compensar o desgoverno a que região ficou submetida durante estes quatro anos e as consequências seriam muito mais gravosas para madeirenses e porto-santenses.

Venha outro melhor Governo Regional que este não deixará saudades.