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Autonomia e miopia

Há uns dias, ouvindo um debate político numa das rádios regionais, um dos intervenientes insurgia-se contra o facto de um partido político trazer à Madeira oradores nacionais para falar sobre uma determinada área. Isto porque, segundo o próprio, os madeirenses não precisam de ninguém de fora que os diga como se governa a Madeira. A meu ver, só por miopia política, se pode tomar por razoável esta posição.

A autonomia é um bem inquestionável para o desenvolvimento da Região: a Madeira enquanto arquipélago tem características muito próprias e são os que cá estão e cá vivem que devem tomar conta dos destinos desta parcela do território nacional. Isso, reitero, é inquestionável. Sabemos que outras regiões do país, principalmente as zonas do interior do Continente português, há muito anseiam por líderes e leis que os permitam tomar conta da sua Região, dentro da unidade nacional.

Dito isto, convém acrescentar que o Mundo vai muito para além do nosso umbigo.

Aquilo que caracteriza as grandes metrópoles mundiais é serem abertas a outros saberes, a outras culturas e a outras experiências, porque isso só as enriquece. Aqui chegados, entendo que a Madeira só ganha em ouvir bons pensadores nacionais ou internacionais que a enriqueçam também. A história da Madeira, secularmente tocada pelo Turismo, sempre cresceu e evoluiu abrindo-se a pensamentos de outras latitudes e continentes. Não aceitar que podemos aprender com os outros, parece-me pensamento de fraco horizonte.

Por outro lado, e se levássemos a intransigência inicial em linha de conta, estaríamos também a limitar os madeirenses de se poderem expressar política, económica, cultural e socialmente no Mundo inteiro. Quem entende que quem vem de fora não nos pode ajudar na política, parece traçar um limite que, ao invés, impediria um madeirense de ser primeiro ministro ou Presidente do país.

A aldeia global não é uma ficção.