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Fenómeno das ‘fake news’ é um “argumento de ataque ao jornalismo profissional”

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As ‘fake news’ tornaram-se um “argumento de ataque ao jornalismo profissional”, sendo na verdade “boatos que se travestem” de notícias mas que não têm “compromisso com a verdade factual”, defendeu hoje o investigador Renan Colombo.

Em declarações à agência Lusa, à margem do 1.º Congresso Internacional Jornalismo Digital, na Faculdade de Filosofia de Braga, o investigador que se debruçou sobre o “Panorama da circulação de ‘fake news’ nas eleições presidenciais brasileiras” alertou para que o período eleitoral que se aproxima em Portugal é o “clima perfeito” para o aparecimento e proliferação de ‘fake news’ (desinformação).

“Do ponto de vista científico, o termo ‘fake news’ é um terno que nós utilizamos, que se tornou um argumento de ataque ao jornalismo profissional, especialmente a partir de políticos, sendo Donald Trump o expoente máximo”, defendeu.

Renan Colombo, que faz parte do desenvolvimento do programa Comprova, desenvolvido no Brasil e que tem por objetivo “identificar e enfraquecer as sofisticadas técnicas de manipulação e disseminação de conteúdo enganoso que surgem ao redor do mundo”, defendeu que o termo mais correto seria “false news”.

“Se é para usar um estrangeirismo devia ser ‘false news’, notícias falsas, mas mesmo o termo notícia parece desadequado porque a produção da notícia serve um ritmo e procedimento que são técnicas e estratégias muito próximas do jornalismo”, explicou.

“O que costumamos chamar como ‘fake news’, na verdade, são boatos que se travestem se notícias, utilizam elementos característicos do jornalismo (...) mas não são notícias porque não têm compromisso com a verdade factual, e não passaram pelo processo de produção igual ao da notícia”, explanou.

O investigador deixou um alerta, tendo em conta as eleições legislativas marcadas para outubro: “A aproximação de eleições é um cenário ideal para começarem a aparecer as ‘fake news’. Os três casos de estudo são Trump (2017), Bolsonaro (2018) e o ‘Brexit’ (2018). O ciclo eleitoral é um período muito fértil para proliferação de notícias maliciosas, quase sempre falsas ou enganosas”.

Ou seja, reforçou, “as ‘fake news’ são esse fenómeno que tem essencialmente como sentido específico de disseminação de boatos, especialmente a partir de canais digitais, rede sociais ou de comunicação interpessoal quase sempre com a intenção de prejudicar alguém”.

Sobre a forma de combater este fenómeno, a realidade brasileira difere da portuguesa, havendo mesmo, no Brasil, agências que “só fazem desmentidos e investigação”.

No entanto, Renan Colombo defendeu que “primeiro cabe ao cidadão fazer essa confirmação sem necessidade do jornalista”, deixando algumas “dicas” sobre questões que o cidadão deve colocar.

“Foi publicada em algum órgão de comunicação reconhecido? Há atribuição das fontes envolvidas? A data é atual? O contexto está correto? O cidadão por conta própria pode aprender a defender-se desse mundo”, referiu.

Já a realidade “da vida acelerada” e “falta de tempo” são iguais em Portugal e no Brasil: “As pessoas, de facto, não têm tempo de se dedicar a investigar uma questão a fundo”, disse.

O especialista apontou ainda uma outra causa para o “aparente sucesso” da disseminação de ‘fake news’.

“Também vivemos um fenómeno, que chama de “câmaras de eco”, que defendem que nós também tentamos expor as informações que confirmem as nossas opiniões, o que nos coloca num sentido informativo limitado”, avisou.