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Já não me podem surpreender

Escrevo e falo sobre temas decisivos. Apresento soluções. Quem mais faz isso?

Sou colaborador do Diário há mais de vinte anos, escrevo ainda com regularidade, sou comentador na TSF e tenho boa relação pessoal com os seus principais responsáveis. Na minha actividade como gestor sou comprador de publicidade, no espaço do Diário, em montantes consideráveis.

Assim, não aceito que o Diário coloque o meu nome na sua primeira página para me envolver em escolhas e especulações políticas nas quais já disse não querer participar.

E se o Diário escreve sobre a minha pessoa, eu posso escrever sobre o Diário.

Primeiro devo lembrar aos responsáveis pelo Diário, jornalistas incluídos, que no dia 1 de Julho, na sessão solene da Assembleia Legislativa da Madeira em Machico, finalizei o meu discurso em representação do grupo parlamentar do PSD com uma nota pessoal pela qual agradecia ao meu partido de me ter proporcionado a oportunidade de servir a minha terra natal. Durante 40 anos. E acrescentava sentir-me satisfeito e que não contassem no futuro com o meu silêncio pois desejo continuar a intervir sobre a vida da Madeira e do Porto Santo.

Pedi, no início de Janeiro, ao líder parlamentar para ser eu a fazer esse discurso. Dei a entender ao que ía. Fui claro e todos reconheceram a intenção do meu discurso. Não lambujei seja quem for e até pedi desculpa à oposição se por qualquer razão, no calor dos debates, me tivesse excedido ou resultasse qualquer falha de menos ética. Disse ter procurado ser justo e esgrimir apenas argumentos políticos.

Das muitas vezes que presidi ao plenário nunca resultou crítica ou protesto.

É inaceitável que o Diário me venha a envolver na feitura de listas. Tem sabor a mesquinhez e vindicta de fonte do PSD pretender insinuar a minha eventual exclusão das listas por vontade de Albuquerque. Como há sempre distraídos podia ser que passasse. Os partidos nunca aceitam que alguém se afaste por seu pé.

Nunca pedi para assumir qualquer cargo político. Fui sempre convidado. Aceitei e recusei muitos convites.

Não aceitei ser Secretário Regional aos 26 anos. Fui convidado pelo Primeiro-Ministro Durão Barroso duas vezes para Secretário de Estado e uma vez para Ministro do governo de Santana Lopes. Tive pena de ter sido eleito, mais do que uma vez, deputado à Assembleia da República e não ter exercido o mandato por estar no governo regional. Podia lá estar nesta legislatura se tivesse aceite o convite de Miguel Albuquerque. Também não aceitei na década de oitenta ser candidato a Presidente da Câmara do Funchal e na década de noventa ser deputado ao parlamento europeu.

Sou, hoje em dia, o político em funções públicas electivas há mais tempo em Portugal. Ainda tenho o registo do mais jovem membro de governo no País. Fui o primeiro presidente da JSD-Madeira, vice-presidente do PSD Madeira e membro de órgãos nacionais do PSD.

Durão Barroso convidou-me, no Congresso de Coimbra, para a Comissão Política Nacional do PSD. Talvez um dia conte esse episódio e a inqualificável intervenção de político regional que me fez não aceitar.

E tem muito mais !

Depois de tudo isto, alguém acha que me importa o que farei a seguir ? Pode algum convite do PSD ainda me surpreender ?

Muito dificilmente !

Tenho uma vida cheia de política. Com 27 anos reunia com Ministros das finanças, dos transportes, da economia e muitos outros Secretários de Estado. Acompanhei Jardim em reuniões com muitos Primeiros-Ministros. Ainda me lembro que faltei ao último encontro entre Jardim e Sá Carneiro por ter regressado ao Funchal por falecimento do meu sogro. Reuni, só ou acompanhando Alberto João, com presidentes da Comissão Europeia como Jacques Delors, herói da construção europeia, e inúmeros Comissários Europeus. Não imaginam o stress das negociações que liderei para integração da Madeira na então Comunidade Económica Europeia. Só era permitido falar francês.

Em 1980 participei na Conferência das Regiões Periféricas da Europa.

Mas trabalhei muito e realizei o suficiente para estar satisfeito com o meu serviço público. Para além da integração da Madeira na agora União Europeia, talvez a tarefa mais difícil, em simultâneo com a negociação dos fundos comunitários, criei o Centro Internacional de Negócios da Madeira. Sem mim e sem o dr. Francisco Costa não teria nascido. Não é vaidade é, simplesmente, a verdade. Fiz a primeira ampliação do aeroporto da Madeira e preparei a construção da nova pista intercontinental. Criei a Horários do Funchal, construí o porto de Porto Santo, a Marina do Funchal e a primeira fase do porto do Caniçal. Revolucionei os transportes marítimos para Porto Santo e as comunicações com o exterior, tendo a Madeira sido pioneira em Portugal na televisão por cabo e no telefone sem fios. Acertei com o governo nacional a primeira tarifa aérea para residentes. Durante as greves da TAP substituía os seus aviões por outros fretados. Numa das vezes foram trinta dias e nunca faltou voo para viajar. Nas greves da marinha mercante fretávamos navios para não perder a banana. Fiz os parques industriais da Cancela e dos Socorridos. Mudei as cores dos táxis para amarelo. Celebrei com o governo da República o primeiro contrato sobre finanças regionais. Como marca principal concebi e executei o primeiro programa operacional plurifundos (POP-Madeira), para aproveitamento dos primeiros fundos comunitários, fiz o primeiro Plano de Ordenamento do Território (POTRAM) e coordenei a realização municipal dos PDM’s. Um pequeno resumo de doze anos no governo.

Faz inveja, não é ? É próprio da nossa maneira de ser.

Depois de tudo isto, alguém acha que me importa o que farei a seguir ? Pode algum convite do PSD ainda me surpreender ? Já não posso acrescentar currículo.

Sempre pensei em temas estruturantes para a Madeira. Não me interessa a politiquice. Escrevo e falo sobre temas decisivos. Apresento soluções. Quem mais faz isso ?

Que me lembre, fui o único deputado de um grupo parlamentar, nestas quatro décadas, a apresentar uma proposta de Lei a título individual.

Há seis anos quando propus um Pacto Fiscal com o Estado, elogiado por Alberto João Jardim numa página completa do Jornal, parecia que falava sobre a ida a Marte. No orçamento da Madeira sempre só se discutiu despesas. Como gastar o que temos e o que não temos, Ninguém fala de receitas e deviam falar. Nos debates entre os candidatos à liderança do PSD nenhum deles falou em fiscalidade. Zero !Hoje todos falam na necessidade de uma fiscalidade própria. Dentro e fora do PSD. Ainda bem. Estão no caminho certo. Finalmente !

A minha proposta de lei à Assembleia da República, sobre um Sistema Fiscal próprio, foi aprovada na Assembleia Regional sem votos contra. Como disse, a proposta era minha, não do PSD. Devíamos manter essa ideia de projecto regional apoiado por todos. Partidarizar a criação de um sistema fiscal será matar a nossa salvação. Fica para depois discutirmos os diversos modelos fiscais possíveis. Mas para já precisamos ter a Autonomia Fiscal. Nisso temos de estar de acordo. Depois cabe a cada partido na Madeira ir convencer a sua respectiva liderança nacional da necessidade da sua aprovação na Assembleia da República.

Mais do que nunca precisaremos de deputados com influência e intervenção em Lisboa. Não dá para amadorismos e vaidades.

Finalmente, Pedro Calado está a ser assessorado, por especialistas em fiscalidade de muito prestígio, para encontrarmos o modelo adequado à nossa realidade e futuro. Oxalá seja bem sucedido. Já perdemos muito tempo.

Tenho a sensação que fui uma voz incómoda nestes anos de actividade política. Parece não terem gostado que um deputado falasse de novos temas e de assuntos mal geridos. Preferem-os calados. Não escondi a minha verdade sobre os assuntos de interesse para a Madeira e o Porto Santo. Posso não ter toda a verdade mas ainda não fui desmentido sobre qualquer das opiniões que emiti.

Tenho para mim que as duas maiores realizações do PSD foram a conquista da Autonomia e, em 1999, termos “tudo feito” e não termos dívida. Alberto João Jardim foi o líder e herói desses dois “milagres”.

Hoje, Miguel Albuquerque governa com sucesso, rigor e disciplina, para recuperar o caos financeiro da primeira década do século causado por loucuras resultantes de insanidade financeira.

Deixemo-lo continuar esse seu meritório trabalho. O caminho está certo.

Da minha parte, enquanto tiver força, seguirei aquela máxima de “o meu partido é a Madeira”. Escrevendo e falando.