Os Prometedores
Os políticos têm a fama – tantas vezes merecida – de não cumprirem as promessas eleitorais
Em período de tantas eleições está (ou continua) oficialmente aberta a época da “caça ao voto.” Num contexto avesso à discussão de ideias, projectos e ideologias, a principal arma utilizada pelos candidatos é a das promessas, que surgem “aos molhos” e sob as mais variadas formas.
Os políticos têm a fama – tantas vezes merecida – de não cumprirem as promessas eleitorais. Pela minha parte, e talvez sendo ingénuo, creio que tal incumprimento não se deve (apenas) à intenção de enganar (ou aliciar) os eleitores. A verdade é que grande parte das promessas feitas no “calor” da campanha, ainda que bem-intencionadas, são impossíveis de cumprir.
Dito isto, aqui fica um pequeno “guia” – pessoal – de classificação e descodificação das promessas eleitorais, que poderá ajudar na avaliação da respectiva credibilidade.
Promessas condicionadas: cuja concretização depende de algo, tal como a criação de um grupo de trabalho, um “consenso alargado”, um parecer, ou a contratação de terceiros. São, em regra, promessas para não cumprir, ou para adiar. E a “desculpa” até foi dada a anteriori, bastando dizer que “eu bem avisei que...”.
Promessas cheque-careca: que implicam o dispêndio de muito milhões de euros, sem que se explique/justifique de onde é que os mesmos virão. Merecem elevado grau de desconfiança. Há uma grande probabilidade de não serem cumpridas, ou de, em sendo, levar à bancarrota.
Promessas requentadas: prometer fazer algo que anteriormente já se prometeu fazer, mas que não se fez, ou se fez de forma diferente, ainda que com aparente justificação. Há uma presunção – quase inilidível – de incumprimento destas promessas, pois, ou a justificação para não fazer continuará a existir, ou a vontade de não fazer será a mesma.
Promessas em pacote: do tipo x dias y medidas. No nosso modelo jurídico-constitucional e de organização da administração, o ciclo decisório e de implementação de medidas não é, de forma alguma, diário, nem, tão pouco, célere. Assim, a fiabilidade deste tipo de promessas (ou, pelo menos, dos respectivos prazos) é muito reduzida.
Promessas gordurosas: que implicam (como medida em si própria, ou como meio para a concretizar) a redução das “gorduras do Estado”. Estas promessas são impossíveis de cumprir. Na verdade, ou não há onde cortar – vai (quase) tudo para pagar dívidas, juros e ordenados – ou, onde se poderia cortar, ninguém o quer (ou se atreve a) fazer, pois implica perder votos.
Promessas aliviadoras: por exemplo, da carga fiscal, da burocracia ou das ineficiências. Ao nível da tributação, e porque não há margem para redução de receitas, cada imposto reduzido/suprimido é sempre compensado por novos (ou maiores) impostos e/ou novas “taxinhas”. Quanto à burocracia, por cada inovação introduzida, a “máquina” – para assegurar a sua sobrevivência – criará 3 novas complicações.
Promessas TGV: que pelo prazo acelerado de concretização, ou pela dimensão megalómana, não serão concretizadas “em vida”. O TGV existe em França desde 1981. Em Portugal, apesar de já terem sido gastos 149M€ com uma linha TGV adjudicada por José Sócrates em 2009, e, entretanto, cancelada, os comboios ainda nem sequer chegaram ao século XX.
Promessas água no bico: que são boas de mais para ser verdade, tais como a redução de impostos, o aumento de salários, a moralização da política ou o combate à corrupção. Ainda que sejam cumpridas, por cada medida adoptada serão, certamente, adoptadas 10 medidas de efeito inverso.
Boas campanhas e boas promessas!!