Chamem-me tudo menos...
1. Livro: estou a ler, de Vikas Swarup, “Seis Suspeitos”. Swarup é o autor do livro que deu origem ao oscarizado “Quem Quer Ser Milionário”. Vicky Rai é uma besta. Aparece morto no dia em que dá uma festa para comemorar a sua absolvição por uma morte. Uma trama bem urdida em redor de um assassinato, com uma escrita desenvolta e despudorada. Fantástica literatura de verão.
2. Disco: com “Paris, Lisboa”, Salvador Sobral conquistou-me definitivamente. Neste segundo trabalho está tudo muito mais consistente. A lírica, a música, os arranjos. A moderna música portuguesa está muito boa e recomenda-se.
3. Este Governo da República transformou a TAP numa empresa que nem é pública, nem é privada. Assim uma espécie de “nem coisa, nem sai de cima”. Sobre as tarifas de e para a Madeira, o Governo de Costa não tem nada a ver com isso. Sobre o prémio supimpa dados a alguns, já tem a ver.
É uma empresa gerida por socialistas e social-democratas. Uma empresa que demonstra à exaustão que, no essencial, estão ambos de acordo.
O Frasquilho refere-se à Madeira dizendo que as tarifas aéreas andam a par das praticadas pela concorrência. Esquece-se é de dizer que o facto de só termos duas companhias a fazer a operação (sim, eu sei que a Transavia também opera) proporciona uma situação de nula concorrência que tresanda a oligopólio.
A Easyjet é sempre ligeiramente mais baixa nos preços praticados. Qualquer algoritmo decente permite verificar os valores que a TAP pratica e depois estabelecer, os próprios, com base mais reduzida. Não é ciência espacial.
Mas nem precisam de fazer isso. Uma análise acurada à evolução dos preços praticados pela companhia de bandeira, é mais do que suficiente para lhe perceber o modelo.
No meio de tudo isto estamos nós, os contribuintes, a ver o dinheiro dos nossos impostos a subvencionarem, encapotadamente, uma empresa que “nem coisa, nem sai de cima”.
4. O Plano de Ordenamento Turístico em vigor determina, muito claramente, que novas unidades hoteleiras a serem construídas não devem passar as 160 camas.
Em casos atípicos está previsto um regime de excepção.
O que tem acontecido é exactamente o contrário. O regime de excepção tornou-se norma e o licenciamento de novas unidades que não ultrapassem as tais 160 camas é que é a excepção.
Vivemos numa terra onde fazer “tábua rasa” da legislação é normal.
Vivemos numa terra onde muita gente acha, estas anormalidades, “normais”.
Às vezes, pergunto-me se merecemos outra coisa...
5. Uma pessoa quando decide descer das suas tamanquinhas para se “meter na política”, soi-disant, por mais que tente calcular como vão ser as coisas, há todo um mundo que lhe passa ao lado.
Por exemplo, a exposição pública. A das redes sociais é terrível. São os venenos, as desconfianças, os insultos, as mentiras, a perfídia, a maledicência, etc. É o desfilar do fel que muitos acumulam dentro de si. Como não há uma presença que lhes permita afirmá-lo cara-a-cara, torna-se-lhes muito mais fácil a frase pequenina que é escrita à distância de um teclado.
Que eu sou gordo (olha a novidade), que estou é a precisar de uma dieta (uma verdade, nunca um insulto), que quero é tacho, que sou um mamão, e por aí fora. Outros há que andam, de régua na mão, a medir as propostas, à luz de um liberalómetro, esquecendo que vivemos numa montanha no meio do Atlântico habitável até aos 600 metros e que somos muitos e a terra é pouca, enfermando assim de um enorme problema de escala.
Já me chamaram fascista, a mim que abomino qualquer forma de ditadura e tenho um amor incondicional pela liberdade. Já me chamaram salazarento, a mim que tenho um enorme ódio por essa figura mesquinha da grande história deste país. E, porque já apresentei um programa de televisão de culinária, já me chamaram cozinheiro, coisa que estou longe de ser, e como se isso, para mim, fosse uma ofensa.
Se é que isto serve para alguma coisa, fiquem cientes de que não me ofende quem quer. O ser ofendido não está naquilo que me é dirigido, está no eu achar que isso me ofende, ou não. Ou seja, até agora, só me senti ofendido uma única vez e acreditem que as tentativas diárias são muitas.
Chamaram-me “flamista” e isso eu não admito. “Flamista”, a mim que vivi numa casa, na minha juventude, que foi várias vezes ameaçada de bomba pelos ditos cujos. Nunca fui, não sou, nem nunca o serei. “Flamista”, o raio que o parta!
6. Como se nada fosse, ficámos a saber que, na Quinta Vigia, residência oficial do Presidente do Governo, se fazem umas festarolas para empresas privadas. Não percebi quem paga a conta, se os nossos impostos se a empresa que se propõe ir ao croquete. Seja lá como for, esta promiscuidade, entre o que é público e o que é privado, dá-me volta ao estômago.
7. Na edição de ontem, deste Diário, Paulo Cafôfo mente ao dizer que “o PS Madeira passa a ser o único partido a colocar no papel ideias concretas para a Região”. Sei da dimensão da Iniciativa Liberal. Mas seja ela qual for, considerarei sempre tão importante um voto no partido do Professor, como um voto no meu partido. Em democracia o respeito pelos outros, ao não existir, é propiciador deste ambiente pré-eleitoral tão pouco saudável existente entre, os ditos, “dois principais partidos”. Quem quer ser respeitado tem que se dar ao respeito.
Em 5 temáticas (Saúde e Bem Estar, Agricultura, Florestas, Água e Mobilidade Aérea), a Iniciativa Liberal já apresentou mais de 50 propostas. E ainda nem a meio chegámos.
Lamento que isto possa causar qualquer incómodo a quem pensava que iríamos ser um partido reactivo, pois temos ideias e propostas concretas. Gostem ou não gostem delas.
8. Outra das notícias da semana prende-se com o termos sabido de umas indemnizações que vão ser pagas, a empreiteiros, por incumprimentos do Governo Regional.
Como se nada fosse, soubemos também que um estaleiro de um desses empreiteiros, autorizado a título provisório em 2003, repito: 2003, e mandado encerrar em 2017, continua cheio de inertes, impossibilitando a utilização do terreno pelo seu proprietário e a remoção dos tapumes. Alguém ouviu falar em indemnizações? Multas? Nesta terra que todos amamos a vergonha tapa-se de tapume.
9. Engraçado o PS e “sus muchachos” terem ficado tão indignados por Rui Barreto ter dito que “o CDS está mais próximo do PSD”. Qual é a admiração? Não tem esse partido mais pontos em comum com o PSD do que com o PS? O PS passa a vida a diabolizar a “direita”, essa bandida. E, depois, um desses partidos diabolizados diz que tem afinidades com o outro e lá vêm as prima-donas do PS armadas em damas ofendidas. Mas que falta de jeito para a política.
10. E de repente fez-se luz. Para alguns, Rui Barreto, o sorumbático com cara de fim do mundo, decidiu, não se fazendo anunciar e sem apelo nem agravo, usar a ironia e o humor para comentar os alegres convívios na Quinta das Angústias. Nós, comuns mortais, que lhe adivinhemos o fino trato da ironia, que tanto jeito deu alegar para justificar.
11. O Funchal Notícias anda a entrevistar antigos líderes partidários. Gostei da entrevista a Mota Torres e, em especial, da conversa com Ricardo Vieira.
12. “Não há ‘almoço grátis!’”
– Milton Friedman