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Voto no Dupond ou no Dupont?

Após eleitos, muitos dos políticos dos grandes partidos entram em modo zen!

De há anos a esta parte que deixei de votar nos chamados partidos do arco do poder. Estes partidos têm vindo sucessivamente a subverter os nobres valores que deveriam nortear a sua actuação. E esta situação agrava-se com a proximidade dos actos eleitorais. Cada vez mais se acentua a semelhança com os polícias Dupond e Dupont, de Hergé, nos fabulosos livros das aventuras de Tintin...

Nos últimos meses, segundo as notícias publicadas, os seus porta-vozes encontraram as soluções para todos os problemas da vida dos portugueses. E, algures na Madeira, surgiu uma nascente de dinheiro que escorre directamente para os cofres do erário público regional.

Infelizmente, num futuro não muito longínquo, vamos pagar os devaneios destes políticos que elegemos.

Foi criada uma pré-reforma antecipada para os funcionários públicos. Segundo o que é conhecido, não foi concedida nenhuma porque os serviços não tinham nem recursos financeiros nem humanos para as concretizar.

Os nossos legisladores (os tais que vamos eleger daqui a dias para fazerem coisas destas...) resolveram, em Fevereiro deste ano, que quase todos os comerciantes deveriam ter programas informáticos de facturação e os mais desfavorecidos teriam um programa de borla, com efeitos a partir de 1 de Julho de 2019. No final de Junho, foi despachado que estas medidas só entrariam em vigor a partir de 1 de Janeiro de 2020. Afinal, o Estado não tinha feito o trabalho de casa...

Na mesma senda, foi implementado um regime de protecção de dados pessoais. Todas as entidades que lidam com essa informação tiveram de se adaptar e cumprir com uma série de requisitos. Entretanto, o mesmo legislador tem uma proposta de lei em que se mandava essa protecção às urtigas... Foi preciso alguns partidos suscitarem esta questão para travar o andamento... E um dos responsáveis governamentais veio alertar para o investimento de milhões já efectuado...

Há cinquenta anos, foi deitado abaixo o mercado municipal da Viana do Castelo para construir, legalmente, um mamarracho. Hoje, os seus proprietários são “despejados” para deitar abaixo o prédio e, no seu lugar, construir um mercado municipal...

As páginas deste diário não seriam suficientes para evidenciar as diversas situações que reflectem esta falta de planeamento dos nossos políticos em geral, sejam legisladores, poder ou oposição.

Há muita falta de bom senso e, sobretudo, sentido responsabilidade, resultantes do seu alheamento à realidade do país! Após eleitos, muitos dos políticos dos grandes partidos entram em modo zen!

Quando estão na oposição, cultivam o melhor da maledicência e apresentam as melhores propostas para a melhor das sociedades. Quando chegam ao poder esquecem tudo e fazem, com novas vestimentas, precisamente o mesmo que estava a ser feito. E, sem vergonha, têm justificações para tudo: é o contexto internacional, a pesada herança recebida do anterior governo, a crise da banana e a lagarta da fruta...

Por isso, não gosto de maiorias absolutas e condeno a abstenção. Continuarei a cumprir o meu dever cívico de votar... num dos partidos pequenos!