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Madeira, cinzenta ou azul, uma questão de herança!

Numa altura em que se aproximam as eleições, assiste-se à mediatização de propostas e promessas bem claras, por norma de implementação imediata, para os próximos 4 anos, na esperança de motivar o eleitorado para votar. Mais apoios, menos impostos, mais economia, menos desemprego, mais justiça, menos arrogância, mais transparência, menos corrupção, certo?

E que tal propor algo para o espaço de uma a duas gerações? Que tal prometer aquilo que não trará evidências no imediato, mas apenas nos próximos anos? Deixem-me recuar 50 anos ao problemático ano de 1968. A guerra do Vietnam estava no auge, foi assassinado Martin Luther King e os tanques do exército soviético invadiram a Checoslováquia, impondo a “Cortina de Ferro”, à Lei da Bala.

Mas, na véspera de Natal desse mesmo ano de 1968, o astronauta Bill Anders, a bordo da Apollo 8, viu pela janela a Terra inesperadamente a “nascer” por detrás da Lua e disse: “Oh, meu deus! Olhem esta imagem incrível! A Terra! WOW!”

E Bill pegou na camara e tirou aquela que seria reconhecida como uma das 100 fotografias que mudaram o mundo pela revista Life e, talvez, “a fotografia ambiental mais influente alguma vez tirada”, pois mostrava a enigmática beleza azul dos oceanos da Terra a vaguear pelo inóspito espaço escuro e vazio.

Após essa fotografia ficamos com a certeza de que todos nós compartilhamos algo: o de sermos habitantes deste planeta.

Nasci depois de essa fotografia ser tirada. Posso ser apelidado de naïf, autista, mas passo bem com tais adjectivos. Uma coisa que, como pai, penso ser natural, é deixar aos meus filhos mais do que recebi dos meus pais. Mais do que bens, deixar-lhes valores, competências, sonhos e esperanças. Deixar-lhes um planeta onde se possa viver e não sobreviver apenas.

Assim, terminarei esta Legislatura na próxima terça-feira. Não a falar da próxima, mas das futuras, mesmo que longínquas, daquelas em que possamos olhar o planeta e dizer: estamos a conseguir travar a destruição da Terra.

Terminaremos com o debate escolhido pelo CDS sobre a sustentabilidade da nossa ilha. Imaginando uma Madeira que humildemente contribui para atenuar as alterações climáticas, a biodiversidade. Com uma agricultura sem impacto duradouro no ambiente, um oceano limpo, uma paisagem conservada. Uma economia que se energiza sem recurso fóssil. Uma sociedade que recicla, que respeita os animais, que respeita os outros, aqueles iguais a nós mas também os outros, os diferentes, mesmo aqueles que pensam de outra forma.

https://www.nasa.gov/image-feature/apollo-8-earthrise