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O Velho do bordão*

Um velho tinha um bordão

com o qual caminhava,

dizem que era com ele

que tudo adivinhava.

João antes de partir

ao velho foi consultar,

queria saber da sorte

que teria ao emigrar.

Não escolhes o destino

este nunca volta atrás,

o destino vais seguir

quer fiques, quer vás.

Perguntou o pescador

como iria ser o mar,

o velho virou as costas,

de certo, teria azar.

Mulher pede que a filha

tenha um bom casamento,

o velho a testa franzia,

por ser feia como o vento.

Dizem que ouve os insetos

coisas que ninguém ouvia,

distribuía sorte aos outros

mas a ele nada cabia.

Alguns tão desconfiados

não querem acreditar,

mas o certo é que no fundo

viam tudo se confirmar.

O padre o criticava,

isso é superstição,

mas o povo acreditava

pelo sim, pelo não.

Mais que santo no altar,

a gente nele confiava,

o padre enfurecido

para o inferno o mandava.

O velho incomodado,

na gruta se refugia,

esta sua casa feliz,

era ali que bem vivia.

O velho não tinha culpa

nem queria confusão,

não era adivinho ou santo,

era o velho do bordão.

* Extrato do livro “Saudades do Inferno” de Filipe Corujeira,

a publicar.