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Os resignados

Confesso que me aborrece mas nada posso fazer a não ser constatar o facto. E escrever sobre ele a ver se, gastando caracteres assim à toa, lavo a alma.

Começa com as eleições. O que eu fui lendo! Que não votam porque os políticos são todos uns aldrabões, porque ganham rios de dinheiro, não fazem nenhum e sei lá eu mais o quê. Como se, não votando, eles passassem a ganhar menos ou a ser mais sérios, numa lógica que só pode ser da batata, realmente.

Depois, muito mais grave porque se trata do nosso dia-a-dia que parece não importar assim muito a ninguém, o mesmo tipo de resignação, justificada pelo mesmo tipo de argumentos, os tais de teor agrícola...

A absurda carga fiscal, que serve para aumentar ordenados e tratar de reposições de algumas classes enquanto, ao mesmo tempo, assistimos ao degradar de serviços tidos por essenciais, não parece merecer assim muita acção. A não ser por parte dos que ficaram de fora das benesses!

Os 4 anos de processo kafkiano para levantamento de subsídio de mobilidade, a que parece já nos termos habituado, mesmo com o absurdo de uma estação de correios validar o que a anterior tinha dito ser impossível; os quase 2 anos que já leva o estudo da ANAC sobre os limites de operacionalidade do aeroporto, sobre o qual paira o mais absoluto silêncio; a falta de um plano de contingência; a falta de estratégia para um sector que se adivinha (porque ninguém calcula) representar ¼ da riqueza gerada na Região; a incapacidade de reter os melhores em funções que deviam, só por si, ser suficientemente atractivas para os mobilizar.

Tudo isto se passa ao mesmo tempo que decorre um processo de continuada politização de tudo o que mexe – quer ao nível nacional quer local, autarquias incluídas – transformando o que alguns chamavam de Estado Social numa qualquer coisa do mais Assistencial possível. Nada que um subsidiozinho não resolva...

Há uma excepção, neste aparente estado de resignação generalizado: - a TAP! Que, como é coisa de lá, serve de saco de pancada, numa lógica que sinceramente me escapa. Já agora, que tal apresentar soluções que não seja fretar uns votos, perdão, lugares de avião em algumas alturas do ano?

Experimentar, por exemplo, comprar a preços de Antonoaldo lugares de avião para todo o ano, não sairia bem mais barato aos cofres da nação? Se a câmara pode adquirir entradas no Lido à Frente Mar, julgo que o Tribunal de Contas não vai chatear assim muito...

Sei que devia mas não consigo resignar-me. Triste sina, esta...