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Já, Agora!

Há muitos, muitos anos atrás, viviam os homens (e mulheres e crianças, de todas as raças e géneros, e pronto, fica dito que o termo inclui todas e todos. Aliás, com esta mania de generalizar géneros, não sei como é que ainda não se lembraram de uniformizar, não sei bem como, confesso, as diversas ordens profissionais que existem no País, como a Ordem dos Médicos, quando há mais elas do que eles, a Ordem dos Enfermeiros, onde, mais uma vez, há mais elas do que eles, e por aí adiante, a Ordem dos Engenheiros, a Ordem dos Advogados, a Ordem dos Economistas, a Ordem dos Nutricionistas, enfim todas as Ordens que se titulam no masculino mas que são compostas por bem mais elas do que eles.

Francamente!..., há fazer alguma coisa. Talvez para a próxima legislatura, que é uma coisa que está em moda nos dias que correm: não se chega a acordo, “manda-se” para a próxima legislatura, mesmo sem saber se lá estarão, ou se terão palavra na mesma, pois na próxima é que vai ser!...) numa civilização em que a informação, qualquer informação, não estava na ponta de um dedo ou, como se diz, num clique.

Ainda me lembro dos dias que se passavam bem sem televisão – parece que foi ontem mesmo – e, agora, sair de casa sem o smartphone dá uma sensação de nudez e desamparo de difícil explicação.

Estamos na era do Já!, do Agora!, da informação chegada ao segundo, mesmo que não tenhamos a mínima necessidade da mesma que vai chegando ao segundo, determinando e influenciando conhecimentos e comportamentos, alterando as variáveis de pensamento em décimas de segundo, provocando um “efeito borboleta” social, de difícil controlo

(o “efeito borboleta” faz parte da teoria do caos e refere-se à dependência sensível às condições iniciais, que se explica de uma forma simples com a imagem de que um bater de asas de uma borboleta poderia influenciar o curso natural das coisas e assim, talvez, provocar um tufão do outro lado do mundo).

Na ciência clássica os sistemas abertos, dinâmicos, complexos e adaptativos, transformam-se em sistemas fechados para poder aplicar as leis conhecidas que privilegiam as linearidades em detrimento das não-linearidades, para facilitar e simplificar a análise de dados. Mas, uma decisão mínima, muitas vezes insignificante, tomada com plena espontaneidade, nos sistemas dinâmicos abertos, pode gerar uma transformação inesperada num futuro incerto.

Isto quer dizer que, com a informação a chegar ao segundo através das redes socias, sem filtros de qualquer espécie, muitas vezes sem fundamento de veracidade (veja-se a voragem das “fake-news”), o Já!, o Agora! sociais são um novo pasto para as incertezas que se sentem e que são reais, apesar dos fundamentos poderem ser falsos. Trump e o Brexit são disso um exemplo.

Já!, Agora!, é quanto basta para se formularem conclusões, e basear nestas as decisões, sem procurar saber qual o caminho trilhado para se poder ter chegado ao Agora!, com o Já! na ponta do conhecimento.

O Já! e o Agora! caminham em proporção inversa ao conhecimento das causas e, logo, dos seus efeitos. Não interessa o como se chegou! Interessa o efeito, sem o conhecimento da causa, conhecimento esse que poderia levar a decisões diferentes, quiçá mais justas e equilibradas.

O nosso dia-a-dia é feito, actualmente, das pequenas nuances que quem tem a função de governar vai dizendo em relação aos problemas reais, disfarçando-os de acordo com as suas necessidades pessoais e partidárias, pois sabem bem que qualquer coisa que digam será imediatamente, Já! e Agora!, escalpelizado por miríades de comentadores que, através das muitas redes sociais que por aí pululam, atingirá os seus vários públicos alvo.

Ele são os professores, ele são os médicos, ele são os enfermeiros, ele são os condutores de cargas perigosas, ele é a TAP, ele são as promessas que se sabe não poder cumprir mas que são feitas à luz de qualquer época eleitoral.

O que deveria ser feito, enquanto podemos, é transformar o Já!, Agora!, num “já agora”, muito mais simples e exigir que, já agora que estão a prometer Saúde, Educação, Hospitais e Escolas, também já agora cumpram com as promessas, tirando força ao caos que o bater de asas de uma mentira pode provocar no futuro incerto que é o de todos nós.