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Anastácio Filinto

Bem-aventurado, eu te saúdo!

O luto, necessário como tudo, é-me lento e sedimentado. Desfia-me devagarinho um novelo existencial e recompõe-me, igualmente sem pressas, o estado de espírito. O meu pai foi uma escola – a tal Escola do Senhor Filinto -, que obviamente se prolonga para além dos seus noventa anos (vividos com graça, sabedoria e suavidade) e que deixa pegadas boas em muita gente. O luto, para mim que com ele apreendi o assombro poético e o amor como a palavra-chave, é sem susto, nem morbidez, mas com esta metáfora de maio, maduro maio. O mais, meu bem-aventurado pai: andamentos...

Madrugada

Estou em falta com todos quantos me têm escrito por estes dias. Regra geral, respondo célere às mensagens, especialmente quando me devotam apoio e solidariedade. Entretanto, como sói na perda e no luto, feitas a combustão e a sublimação, darei em tempo devido o retorno a cada atenção e menção.

Certos momentos

Certos momentos são especiais. Marcam-nos. Deixam-nos pegadas, se não eternas, infinitas. E fazem-nos repensar tudo - do pão-nosso-de-cada-dia ao centenário da Teoria da Relatividade, de Albert Einstein passando, antes de algum crepúsculo, pelo abraço que nos dão. Ainda triste, esboço sorrisos, ensaio chistes e retribuo abraços. Com estranha maturidade, explicando-a Freud. Nem esplendor, nem Olimpo, tampouco gloria há para mínima vaidade. É ousarmos a Poesia de cada momento e o labirinto de tudo para tactearmos a concepção-do-mundo. O Minotauro, antropomórfica e híbrida figura, somos nós no entorno que nos é dado ser e estar. Repensemos cada ato do teatro que nos coube sem perder a alegria. Alegrar-se, como diria Ariano Suassuna, alegrar-se no obrigatório e obrigar-se no alegre.

Em canto

Perguntar-me-ia Pilatos: o que é a verdade? Presumo (mas o que saberei verdadeiramente? Árvore suficiente entre tantas outras?): germinar, amadurecer, envelhecer e morrer. Transmudar? Há coisas simples, sem intenção de esfinge. O cumprir-se com desvelo de flores e frutos é o sine qua non do encanto. Encantar-se, nutrir-se à frondosa úbere da luz e sombra. Quando, silenciosas e à revelia da estação, caem-me as folhas, vejo-te (como sempre) em presença e em permanência, em canto. E eu nesta mudez das mudas, árvore jamais absoluta...tão-só suficiente.

Signo

Signo? Cavalo, dizias. É criatura que não se monta bravia e sob hipótese alguma se esquadrinha fora do talhado da intimidade; sábio amansá-la com açucar e com afeto, rematavas...