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Não há nenhum Planeta B

Numa semana mediática do ambiente, a jovem ativista sueca, Greta Thumberg, avisou: se destruímos este planeta, não teremos uma outra opção B, viável para albergar a humanidade. E ela esclarece, talvez por padecer da Síndroma de Asperger, numa forma peculiar de comunicabilidade: “Vejo as coisas um pouco diferente das outras pessoas, mais a preto e branco.” E acrescenta: “Uma visão destas, mais assertiva, ajuda a abrir as mentes e os corações das pessoas ao Ambiente.”

Na verdade, ao conhecermos o Universo, consciencializamo-nos do frágil, mas também do belo equilíbrio ancestral em que vive a Terra. “Um microcosmo com características bem afinadas de gravidade, radiação, geologia, temperatura, atmosfera, oceanografia e biodiversidade, no qual fomos criados pela evolução e acolhidos na perfeição”, uma frase clarividente que retive do Professor Francisco Diego do University College of London (UCL). Compreender a Física por detrás das alterações climáticas é complexo, mas deixem-me dar-vos umas pistas.

O planeta tem sido estável ao longo de milhões de anos pelos seus mecanismos de autorregulação. Um deles é o “Ciclo de Carbono”. O carbono é muito frequente na Terra, formado, tal como o oxigénio, no interior das estrelas. Existe na estrutura dos próprios seres vivos, na atmosfera como dióxido de carbono (CO2), nos oceanos como bicabornato e na crosta terrestre como rocha calcária, etc. Neste ciclo interminável, uma forma de carbono vai-se transformando noutra. O gás condensa-se nos oceanos, no fundo do mar forma rochas calcárias, que depois são expelidas de volta à atmosfera pelo vulcanismo e a tectónica. Aí, as plantas captam o gás e transformam-no em material orgânico sólido, que se volta a acumular no subsolo, desta vez como petróleo, carvão e outros hidrocarbonetos.

É assim há milhões de anos, mas agora tudo mudou. O clima na Terra resulta do rácio entre energia solar recebida e emitida. Nos últimos 200 anos a humanidade resolveu extrair e combustar os hidrocarbonetos, produzindo imenso CO2, que se acumulam na atmosfera, funcionando como “isolante térmico”. Tal produz o Efeito de Estufa e a energia da radiação solar já não é refletida de volta para o espaço, ficando retida na Terra, aumentando a sua temperatura média. Digo média, pois neste aumento é caprichoso e irregular. Há zonas que aqueceram imenso e outras, poucas, até estão mais frias, como o Midwest americano, onde já vivi e constatei o rigor invernal. Certamente lembram-se das imagens de Chicago “congelado” neste inverno!

A “mão humana” quebrou, pois, o Ciclo do Carbono! Estas alterações do clima são diferentes de todas as anteriores. A mais obvia consequência é o degelo e a subida dos oceanos. Um terço desta subida deve-se ao simples aumento do volume da água, quando é aquecida, um terço ao degelo da Gronelândia e o outro terço ao degelo do resto do mundo (Antártica incluída).

Uma pergunta: porque razão o degelo da Gronelândia é tão importante? A matemática explica: primeiro, é um gigante gelado, a segunda maior acumulação de gelo do mundo, quase 2400 km de gelo de Norte a Sul, com a espessura de 3km de altura, milhares de vezes o volume da ilha da Madeira! Segundo, o Ártico é a zona do planeta que mais aqueceu, até 7oC em 50 anos. Ambos conjugados são a receita para o desastre.

Tive o privilégio de, in loco, constatar as várias etapas, como sugerido no UCL! A calote gelada que antes era branca, lisa brilhante, refletia a luz solar como um espelho, arrefecendo-a, o fenómeno de Albedo. A poluição e os incêndios globais escureceram-na. Passou agora a reter a radiação solar, aquecendo a calote, somando esse ao do fenómeno de Efeito de Estufa. Com o degelo, formaram-se lagoas, estas fissuram o gelo, como uma pele dum rosto envelhecido. A água derretida descolou o gelo da rocha. Este migrou para o mar pelos glaciares, outrora calmos e parados. No mar, a dança de icebergs completa o degelo. Inunda-o de água fria e doce, o que altera as correntes marítimas e a habitual regulação da temperatura. O software de gestão climatérica, chamado Oceano, avariou, sem conserto à vista. Há instabilidade com ventos inusuais. No Índico, o aquecimento altera as Monções e no Pacífico degela a Antártica. Vejam o vídeo das tempestades no Atlântico em 2017, divulgado pela investigadora da NASA, Natalie Batalha, https://www.youtube.com/watch?v=h1eRp0EGOmE.

Na Gronelândia vi populações receosas pela perda da subsistência tradicional da pesca, vi militares e cientistas preocupados. Um deles, o suíço Konrad Steffen, investigador do Ártico há 40 anos, disse-me: “Muitos daqueles que nascerem hoje, numa cidade costeira, não se vão reformar nesse mesmo tipo de cidade”. É uma “antecipação” do que aí vem e, na língua nativa Inuit, a palavra tem dois significados, “aarleraa” (receio) e “neriguaa” (esperança), uma dualidade que resume bem o destino da humanidade.

Não conseguiremos inverter as alterações climáticas, mas somente abrandar o seu ritmo. Em Portugal 150 mil habitantes ribeirinhos serão deslocados, em especial em Aveiro, Lisboa, Setúbal e Faro, mas tal parece não assustar.

Tenho orgulho de a Europa liderar a luta climática. O Parlamento Europeu, recém-eleito, tem agora um peso ambientalista muito reforçado. Nós, os europeus, ao contrário dos americanos, acreditamos que os políticos não podem reinventar a Ciência a seu interesse. Estamos no caminho certo e demostramos, ao Mundo, o passo civilizacional dado. Acreditamos que não há um Planeta B.