Análise

Vias de facto

A mercearia eleitoral abre não tarda nada. Até lá é um ‘vê se te avias’, feito de ameaças de processos judiciais, louvores e propaganda, estatísticas marteladas, inquéritos às promiscuidades evidentes, penhoras de contas, pressões ridículas, estudos incómodos e novos contributos para estigmatização da Madeira no contexto nacional.

Os diversos poderes vão produzindo o que lhes convém, muitas vezes sem preocupação pelas consequências, não sendo surpresa que, na ânsia em dar nas vistas, alguns se ponham a jeito, ou seja, na mira dos que, como nós, têm como missão escrutinar incessantemente a gestão da coisa pública ou à mercê dos que anseiam chegar a vias de facto.

Há os de sempre, em todas as frentes, com aqueles vícios que não dignificam os cargos, comprometem as expectativas e atentam contra a democracia. É pena. Tudo seria diferente se ninguém tivesse medo de assumir o que diz, se ninguém fosse intimado compulsivamente a ir a comícios, almoços ou jantares de caça ao voto e se ninguém fosse perseguido por dizer a verdade. Mas é esta gente que, em vez de educar os seus para o respeito pela diversidade de opinião, produz anónimos.

Há os viciados em queixas e no abuso deliberado do expediente jurídico. Usar a justiça para atemorizar ou a segurança social e a máquina fiscal para perseguir contribuintes e empresas é apenas mais um sinal de desespero com custos imprevisíveis.

Há quem passe o dia a redigir comunicados e reações destinados a inundar os meios de comunicação social, a tentar influenciar jornalistas com posts de circunstância que querem ver chegar a quem de facto decide e a municiar as agências que têm como missão remediar o desnorte. Muita desta malta é paga pelo que não faz e beneficia de um estatuto que qualquer vento democrático desterra num ápice.

Há os que são candidatos às Europeias, nalguns casos, que não são poucos, mais parecendo que se habilitam com grande dose de sacrifício a um qualquer Erasmus. A produção da asneira e a impreparação é tal que o melhor contributo para o esclarecimento do eleitor é evitar as partilhas da ignorância atrevida.

Há os partidos contagiados pela necessidade de mostrar serviço que não ponderam antes de disparatar. Quem valoriza e-mails anónimos, alegadamente repletos de denúncias infundadas, habitualmente tratadas como lixo, arrisca-se a ser colocado ao mesmo nível. Quem opta por uma campanha de baixo nível, à imagem dos seus mentores e protagonistas, dificilmente consegue passar ideias fracturantes. Quem emite atestados de incompetência aos ideólogos de muitas vitórias e menospreza os seus criativos denota insegurança.

Há ainda os reprováveis perfis nas redes sociais, que uns dizem ser dos outros. Falsos como judas, os políticos fingem ser anjos de altar. Esquecem-se que foram escolhidos ou eleitos para servirem grandes causas e não interesses pessoais ou caprichos execráveis.

Mesmo que expediente idêntico tenha sido reprovado pelo eleitorado noutros sufrágios, há gente que não se emenda, talvez porque farta de mandar ou cega por ter poder. Ninguém escapa a esta estratégia tresloucada. Nem eu, que não vou a votos. Uma tal de ‘Jacinta Nunes’, uma das figuras engendradas naquelas reuniões entre assessores e consultores e paridas com o reles intuito de difamar quem não se verga, entendeu implicar com um episódio da minha vida pessoal, como se, enquanto cidadão, não tivesse direito aos cuidados de saúde prestados pelo SESARAM, só por ser jornalista e director deste jornal, como se tal opção, que julgo normal e legítima, mesmo que contrastante com os que sistematicamente procuram remédio e cura noutras paragens, me diminuísse profissionalmente.

Depois de um mês de ausência forçada, voltei por estes dias à missão informativa que tanto me apaixona, agradecido a todos quantos me deram força e saúde nesses dias dolorosos, entretanto superados com sucesso. Muito obrigado pela amizade e solidariedade dos meus amigos e sobretudo pela competência, dedicação e profissionalismo do médico Ferdinando Pereira, enfermeiros e auxiliares do Serviço de Urologia e demais funcionários do hospital. Nenhuma falsidade, por muito infestante que seja, perturbará a vida pautada por valores, trabalho e felicidade.