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A saúde pública não tem preço

Não é segredo para ninguém que, quem tem algumas possibilidades financeiras, recorre ao privado numa situação de maior aflição

Os últimos tempos têm sido férteis em relação a muitos assuntos, mas a saúde tem-se destacado no debate público. Finalmente, temos uma comissão de inquérito que está a inquirir. É caso para perguntar: porque razão as outras comissões não trabalharam assim? Este tema é mais “aliciante”, ou o que está em causa é mais preocupante e pode causar mais prejuízos? Se calhar, é porque desta vez não podem “empurrar” para Lisboa. Será?

Acompanhei o que saiu a público da comissão de inquérito à TAP e à violência doméstica. Que eu saiba, nenhuma deu em nada. Ficou tudo na mesma. Se calhar, agora tocou outras personalidades e então, toca trabalhar a 100%, antes que aconteçam as primeiras eleições e os resultados possam ser influenciados.

Em todo este debate sobre a saúde, tirando algumas e raras exceções, ainda não ouvi falar da situação dos/as doentes que necessitam de ser melhor atendidos/as e ajudados/as. O que interessa é desmentir quem denunciou, arrumando-o com uma suspensão antes de existir qualquer conclusão. O que interessa é desmentir tudo o que foi dito, mesmo que seja verdade que existem listas de espera para tudo e mais alguma coisa. Que há doentes que entram com sintomas de uma doença, e depois de ficarem internados/as apanham outra, com todas as consequências que daí advém. Que por vezes falta quase tudo a quem trabalha no Sistema e tem que aguentar a rede, para que a mesma não caia.

Não é segredo para ninguém que, quem tem algumas possibilidades financeiras, recorre ao privado numa situação de maior aflição. No entanto, quem não consegue, tem que esperar por respostas que tardam muitas vezes tempo demais, com todas as consequências para a sua vida e das suas famílias. Também não é segredo, até porque num território tão pequeno como o nosso, onde tudo se sabe, que o sistema privado de saúde, em muitas situações, está interligado com o público. Normalmente, a maioria dos/as seus/suas técnicos/as trabalha nos dois sistemas. Esta situação causa algum embaraço, sobretudo a quem é atendido/a no público, onde é assumido que não existem respostas para muitas situações, sendo que no sector privado, as mesmas pessoas, têm as respostas que no público não existem. Muitas vezes, esta situação é confundida com promiscuidade entre o público e o privado.

Considero que o problema está em não existirem respostas no sector público. Esta é a questão de fundo que devia guiar todo este debate. A falta de respostas do sector público aos/às utentes do Serviço Regional de Saúde. Esta questão foi muito bem colocada no início deste debate. Porque prefere o Governo Regional apoiar algumas alternativas privadas, em vez de investir mais no sector público? Aqui está uma questão de interesse público que ainda não foi respondida, mesmo depois de tantas audições. Precisamos de perceber o que está a falhar para melhorar o que está mal. Mais do que fazer rolar cabeças e confundir as pessoas com questões que desviam o debate, precisamos de saber porque é que o Sistema tem tantas falhas e não dá resposta às necessidades existentes.

O problema não está em existir um sistema privado. Ainda bem que ele existe, complementando a resposta que não é dada pelo público. O problema está na falta de respostas do sistema público. Este é o busílis da questão que está a ser desviado do debate, se calhar porque é mesmo o de resposta mais difícil, sobretudo por parte dos Governantes Regionais, que preferem continuar a tapar o sol com a peneira.