A vida troca-nos as voltas
A representação em delegação funcionou, mas há situações em que se exige a presença do Presidente do Governo e do Presidente da Assembleia Legislativa Regional
O respeito pela dignidade da pessoa humana exige-nos solidariedade e presença nas situações mais difíceis das vidas das pessoas. Quem ocupa lugares públicos tem a obrigação de estar presente e ser o porta-voz do sentimento coletivo.
O acidente de autocarro da passada 4.ª feira perturbou-nos a todos. O facto da maior parte das vítimas ser alemã não diminuiu em nada a nossa tristeza e consternação. Sentimos o drama das famílias que perderam os seus familiares que vieram à Madeira para passar umas férias e que já não voltarão vivos a casa. Reviveram-se outros acidentes ocorridos na nossa terra e voltamos a viver momentos de luto coletivo.
Infelizmente, acidentes acontecem e a vida, por vezes, troca-nos as voltas. A vida e a morte estão lado a lado e tudo nesta vida é passageiro. Nestes dias, sentimos necessidade de receber e de prestar solidariedade.
Enquanto povo foi um consolo saber que tudo foi feito pelos feridos e que se geriu a situação da melhor forma. Foi fundamental para as pessoas afetadas saberem disto e para as famílias enlutadas saberem que tudo se fez pelos seus familiares.
Creio que foi reconfortante saberem que estávamos todos solidários na dor. Por isso, foi muito importante a presença do nosso Presidente da República aqui na Madeira. É o mais alto representante do nosso país. Bem-haja! Veio logo que pôde e, desde o início, explicou porque não veio mais cedo.
É de elogiar a atitude do governo alemão. Solidarizou-se na primeira hora com as famílias afetadas e agradeceu e elogiou todo o socorro prestado. Enviou logo o seu Ministro dos Negócios Estrangeiros à Madeira para estar presente e organizou a deslocação de um avião-hospital à Região com equipas especializadas de apoio aos seus feridos.
Faltaram os mais altos representantes da nossa Região. A representação em delegação funcionou, mas há situações em que se exige a presença do Presidente do Governo e do Presidente da Assembleia Legislativa Regional.
Falhou a explicação, desde o início, onde estava o Presidente do Governo e de que estavam a tratar do seu regresso. A total ausência de explicação deu azo a inúmeras especulações sobre onde estaria e o que estaria a fazer. Não passou despercebida a justificação do Presidente do Governo na receção do novo Bispo de que estava ausente da Região para consultas médicas.
A explicação veio tarde e não convenceu. Até porque alguns membros com responsabilidade dentro do partido que sustenta o Governo, fizeram declarações em redes sociais que não relatam esta dificuldade em chegar à Madeira. As publicações só destilam arrogância e veneno sobre quem questiona, desviando a atenção da questão central que é a representação institucional e o direito, enquanto cidadão, de saber por onde andam os seus representantes. Para piorar a situação, incentivado por estas atitudes internas, o Presidente da JSD-Madeira classificou a vinda do Presidente da República à Madeira de “ridícula”. Revelador da sua falta de maturidade e sensibilidade política, bem como da noção de dever dos cargos públicos. Alguém precisa de pôr ordem no partido. Estes tiros nos pés afastam cada vez mais as pessoas que não se revêm nesta forma de estar e pensar.
Acresce a tudo isto que o Dubai é o principal hub de acesso à Ásia e à África e tem uma capacidade aeroportuária fantástica. Por isso, a explicação apresentada mantém a dúvida - não conseguiu chegar a tempo das celebrações religiosas da passada 6.ª feira porque tardou em decidir interromper as férias?
Outras questões se colocam, como por exemplo: Quem lhe comunicou a notícia não soube aconselhá-lo da atitude a tomar? A decisão de voltar ocorre só quando representantes estrangeiros decidem estar presente?
O povo madeirense esteve enlutado e sentiu-se amparado na dor com estas manifestações de solidariedade. Nestas ocasiões, é fundamental sentir a genuína solidariedade no olhar, prestando apoio às famílias afetadas. Muitas vezes a presença no silêncio é mais importante do que qualquer palavra dita.
Quando o Presidente do Governo voltar das suas férias, encontrará uma Madeira diferente. A recuperar de mais um luto coletivo.
Porque hoje é Domingo de Páscoa, desejo a todos um feliz dia em família. Saibamos usufruir o melhor de cada dia, sabendo que tudo é passageiro e que, de um momento para outro, a vida troca-nos as voltas.