Análise

Liderar

A Semana Santa fica marcada pela tragédia. Um terrível acidente ceifou a vida a 29 turistas alemães que tinham escolhido este destino como porto de abrigo para um merecido descanso pascal. Não há palavras que possam ser ditas que minimizem a dor das famílias que ficaram, num ápice, sem os seus entes queridos. Desconhecem-se os motivos que levaram um autocarro, de apenas seis anos, a galgar a estrada e provocar a maior tragédia rodoviária da ilha. À frente, em número de mortos, só o acidente com o avião da TAP, em 1977 e o 20 de Fevereiro de 2010. Tudo, agora, de tem de ser apurado ao pormenor, sem mácula nem truques. Em nome da segurança e em nome da credibilidade do destino turístico. Acidentes existem em todo o mundo, mas há tragédias que se podem evitar e outras que decorrem de uma soma de circunstâncias que levam à fatalidade. Veremos.

No Caniço as equipas de socorro actuaram com eficácia e rapidez, o que é sempre de elogiar. A notícia difundiu-se de forma célere e rapidamente os jornais da Europa dedicaram grande espaço à desgraça ocorrida na Madeira.

O Presidente da República foi rápido, como sempre, a reagir e fez questão de cá vir transmitir as condolências às autoridades alemãs que se deslocaram, entretanto, para a Região. Ao mais alto nível, como é expectável nestas ocasiões. Se alguém questionava a utilidade de mais uma vinda de Marcelo Rebelo de Sousa à Madeira, a resposta está precisamente na importância que tem o mercado alemão para o País em geral e para a Região em particular. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, também cá esteve. Por ironia do destino na Região não se encontrava nenhum máximo representante: Miguel Albuquerque está no Dubai com a família, Tranquada Gomes, terá ido para Roma e o Representante da República foi até à Jordânia, tendo regressado com Marcelo Rebelo de Sousa. Coube a Pedro Calado liderar as hostes, receber as entidades oficiais e fazer as honras de uma casa à deriva.

É óbvio que todos têm direito a férias e que os titulares de cargos públicos não são excepção nem adivinham o que poderá acontecer, mas não deveria existir articulação entre órgãos de governo próprio, de forma a não haver ‘vazio de poder’? Seria recomendável que o presidente da Assembleia Legislativa e o presidente do Governo não estarem ausentes ao mesmo tempo. Não há norma legal que o exija, mas o bom senso, a prudência e a responsabilidade do dever, sim. Para qualquer eventualidade, como a que aconteceu na passada quarta-feira e que pôs nas bocas do Mundo mais uma desgraça da Madeira turística. Há questões de institucionalidade e de Estado que têm de ser observadas no exercício dos cargos públicos. Os titulares têm responsabilidades acrescidas e deveriam ter essa consciência. Politicamente o presidente do Governo, ao não interromper as férias, cometeu um erro clamoroso. Não esteve presente quando era mais necessário e quando o foco mediático pendia sobre a Madeira. Foi uma opção que deixou ficar mal o regime autonómico. Revelou falta de liderança, de comando, de argúcia. Já não é a primeira vez que Miguel Albuquerque não se apresenta quando deveria. Governar implica também sacrifícios pessoais.