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Aumento de áreas marinhas protegidas vai obrigar a mudar mentalidades

Foto Global Imagens
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A ministra do Mar, Ana Paula Vitorino, disse ontem que o aumento de 14% para 30% das áreas marinhas protegidas em Portugal exige uma “mudança de mentalidades”, que só irá acontecer nas próximas gerações.

“Nós temos de mudar mentalidades. Nós não podemos começar cada projeto como se fossemos uns órfãos inovadores que chegámos agora para fazer qualquer coisa de novo. Não. Nós temos de criar uma nova mentalidade, uma nova abordagem e congregar os nossos projetos”, declarou a governante.

Ana Paula Vitorino falava na Horta, ilha do Faial, Açores, durante a assinatura de um memorando de entendimento entre o Governo Regional, a Fundação Oceano Azul e a Fundação Waitt, com vista à criação do programa “Blue Azores”, que pretende declarar 15% da Zona Económica Exclusiva (ZEE) nacional nos Açores como área marinha protegida.

A iniciativa visa a “conservação e utilização sustentável dos recursos naturais dos Açores”, através da criação de áreas marinhas protegidas, e irá ser desenvolvida e implementada nos próximos três anos, abrangendo uma área de cerca de 150 mil quilómetros quadrados.

Para que este projeto tenha sucesso, a ministra do Mar referiu que é preciso “educar as pessoas”, eventualmente as próximas gerações, para a necessidade de terem um papel fundamental na preservação dos recursos, inclusivamente, a classe piscatória.

“Perguntavam-me há pouco: e agora, com mais áreas marinhas protegidas, o que é que vai acontecer à pesca? Naturalmente que nós temos de preservar a pesca e as comunidades piscatórias, mas com regras de gestão, que permitam um convívio entre a preservação e a atividade económica”, defendeu a ministra do Mar.

A governante assinalou ainda que Portugal tem sido pioneiro nesta matéria, ao ter assumido perante a Comissão Europeia que pretendia ir além da meta de 14% de área marinhas protegidas no país, para poder chegar aos 30%.

Preocupação semelhante manifestou o presidente do Governo dos Açores, Vasco Cordeiro, considerando que “o maior desafio” deste projeto de criação de mais áreas marinhas protegidas no arquipélago “não está ganho”, que é o “desafio das mentalidades”.

“É preciso que o pescador, que não está aqui nesta sala, perceba que, daquilo que estamos a fazer aqui, resulta benefício para a sua vida”, frisou o chefe do executivo regional, advertindo que, caso essa consciencialização não resulte, projetos como este poderão estar condenados ao fracasso.

Vasco Cordeiro disse também esperar que o projeto “Blue Azores” ajude a transformar o “potencial imenso” do mar dos Açores num “ativo que impulsione o desenvolvimento” da região, através da criação de empregos e de riqueza no arquipélago.

A parceria hoje oficializada entre a Fundação Oceano Azul e a Fundação Waitt prevê que, até 2022, sejam desenvolvidos e implementados planos de gestão para todas as áreas marinhas da região, um plano de ordenamento do espaço marinho e estudos e abordagens inovadoras, que contribuam para uma gestão sustentável das pescas.

O projeto pretende também apoiar processos científicos que contribuam para a identificação de novas áreas de interesse para a conservação e promover a literacia azul, com iniciativas junto de escolas e da comunidade.

Com este programa espera-se preservar os ecossistemas marinhos, dos quais dependem vários setores da economia açoriana, protegendo-os das ameaças provocadas pela sobrepesca, alterações climáticas e poluição, e procurando “um paradigma de sustentabilidade no qual o desenvolvimento económico e a conservação do oceano andem de mãos dadas”.

Em Portugal, existem 71 áreas marinhas protegidas, que representam cerca de 4% das águas da ZEE nacional, a maioria com um nível de proteção moderada, que permite a utilização de várias artes de pesca e de outras atividades com impacto nos ecossistemas.