Análise

Por uma vida nova

1. O ano que está a terminar trouxe novas realidades à Região, mas nem todas foram sinónimo de boas notícias, nem de desenvolvimento social e de melhoria das condições de vida, que é o que efectivamente conta no momento do inevitável balanço.

Em termos políticos 2019 fica marcado pela perda da maioria absoluta do PSD-M nas eleições de Setembro passado, após 43 anos de vitórias absolutas. A Madeira é governada por uma coligação que ainda não mostrou serviço e que se tem limitado à gestão corrente. Coligação que sacrificou o CDS como partido, em troca da presidência da Assembleia Legislativa e de duas secretarias regionais. Até ao momento a sua acção não contribuiu de forma visível para a construção de uma nova política. Antes pelo contrário: assume o elogio das medidas perpetradas pelo PSD no mandato anterior, contrariando o que o seu líder, Rui Barreto, disse e criticou num passado não muito distante. A sua chegada ao poder fez-se notar, essencialmente, pelo apetite voraz aos lugares da administração pública. Ataque esse partilhado pelo partido maior, num assalto sem precedentes aos cargos públicos. 2019 fica marcado pela gula desmedida que forçou a criação do maior governo de sempre da autonomia, desnecessário (e despesista) para as necessidades que se impõem nos próximos quatro anos.

Veremos o que nos traz o próximo Orçamento da Região, em Janeiro. E veremos se as promessas de descida da carga fiscal e da melhoria da vida das pessoas serão vertidas no documento ou se se tudo não vai passar de mera retórica política.

O PS, no xadrez regional, perdeu os três actos eleitorais do ano e vem, ainda, ensaiando a construção de uma oposição que se note no parlamento. Paulo Cafôfo, a grande esperança socialista, está confinado aos debates mensais com Miguel Albuquerque. A sua acção esmoreceu face à dinâmica dos tempos de autarca. Assumir a liderança do partido é o seu grande objectivo para 2020, o que conseguirá com facilidade. Veremos depois que linhas estratégicas vai apresentar como alternância credível.

2. Numa sociedade de fachada como a nossa, que mede a sua importância pela quantidade de fotografias publicadas nas redes sociais, subsiste, por cá, muita pobreza mascarada, desemprego escondido e muitas dificuldades sociais, que merecem resposta imediata. Os indicadores não são os melhores em áreas fulcrais, com a saúde à cabeça.

Não somos ingénuos ao ponto de esperarmos que 2020 se transforme num ano de viragem. Pouco ou nada vai mudar. Basta estar atento ao que nos reserva ao Orçamento do Estado para que as ilusões desapareçam. E com isso movimentos e partidos anti-sistema ganham força e caminho para radicalizarem a sua mensagem, com todos os perigos que isso representa.

Seria bom que 2020 fosse um ano mais esclarecido, mais justo e mais operante em relação às alterações climáticas bem patentes nestes últimos dias de Verão e ao ‘inverno’ demográfico que nos aflige, questão centralíssima no rol das principais preocupações.

3. Este ano fica marcado pela chegada de um novo Bispo à Diocese do Funchal. D. Nuno Brás rompeu com o modus operandi taciturno do seu antecessor e tem sido uma lufada de ar fresco na Igreja da Madeira. Terminou com a fantochada da suspensão do padre Martins Júnior e, na mesma linha de importância, tem ido ao terreno. Sabe dialogar e tem a noção da importância da comunicação. Ainda faltam abrir muitas portas e janelas da instituição, mudar mentalidades e fazer com que a Igreja esteja mais ao lado dos desfavorecidos e rejeitados, mas merece nota positiva a sua caminhada em 2019.

4. Nós não somos educados para a morte e a fatalidade apanha-nos sempre desprevenidos e deixa-nos tristes. António Fournier, que leccionava na Universidade de Turim, faleceu no dia de Natal. Não sabia dele há muitos anos, mas recordo-me como se fosse hoje da aula em que me pôs a escrever a palavra Índia 15 vezes. Foi nos anos 80, na Escola Secundária do Funchal, no início da sua carreira como professor de português. Serviu-me de emenda!