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Natal: alegria e quietude

Segundo o filósofo Blaise Pascal, parafraseado por Tolentino Mendonça no seu livro Nenhum Caminho será Longo, todas a felicidade humana decorre de não sabermos estar quietos num lugar. Este pensamento levou-me a refletir sobre a importância da quietude e do silêncio, que contrasta, precisamente, com a forma como vivenciamos o Natal, na Madeira.

É também nesta quadra que mais transmitimos mensagens que incluem as palavras: paz, serenidade. Não deixa de ser curiosa esta aparente dicotomia de estados vivenciais, em que por um lado desejamos um estado de paz e serenidade, inspirado no Natal, mas por outro, não nos deixamos envolver por essa sensação, pois a forma de celebrarmos a nossa festa é com muita agitação.

Claro que a alegria faz parte de uma equação para a felicidade. Pegando nas palavras de Jesus, citado por Tolentino, “Eu quero que a alegria esteja em vós e a vossa alegria seja completa (Jo,15,11). É este convite ou validação da alegria que vê a sua expressão máxima nesta época festiva, tão propícia à hospitalidade que está intrinsecamente associada à alegria.

Natal é a Festa por excelência, mas é também quietude. É no silêncio que nos encontramos connosco próprios. Não é possível ouvirmos a nós próprios e aos outros se não soubermos parar e escutar. Que encontramos as respostas para as nossas dúvidas e anseios. Jesus recolhia-se no deserto, em silêncio, para refletir sobre os grandes dilemas da sua missão e da humanidade. Até a verdadeira amizade se fixa no silêncio.

O Natal é tempo de festa, de reunião, de comunhão, de alegria, mas deve ser também tempo de recolhimento interior, de reflexão, de silêncio. É a conjugação destas duas dimensões que dão, na minha opinião, sentido ao Natal.

Como nota final, deixo os votos de um Santo e Feliz Natal a todos e expresso a maior admiração por aqueles que dedicam a sua vida a cuidar e a proteger de forma abnegada e anónima os mais frágeis. Que tenham as bênçãos de Deus.