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Um dia a gente morre...

Qualquer de nós se liberta da lei da morte quando deixa em quem nos rodeia uma recordação de bem estar

Um dia, um dia qualquer, sem data, sem aviso, a gente morre.Aparece o desconhecido, aparece o que ninguém sabe o que é.

Um vazio, uma continuação, uma vida após esta, um renascer sem saber?

A curiosidade sobre o desconhecido, sobre o vazio que se instala em quem fica, levou a que os humanos se interrogassem sobre o que viria a seguir, que mistérios encerrava (e encerra) o facto da vida como a conhecemos terminar sem se saber a sua continuação.

E assim, um pouco por causa da morte, nasceram todas as crenças, mais ou menos díspares sobre a sequência que se lhe segue.

Há uma miríade de teorias e de formas de acreditar, tantas, talvez, quantas as almas existentes no mundo, já que cada um encerra a sua própria crença que, tendo bases comuns, varia de humano para humano.

Luís Vaz cantava:

“E aqueles, que por obras valerosas

Se vão da lei da morte libertando;

Cantando espalharei por toda parte,

Se a tanto me ajudar o engenho e arte.”

Entretanto fica a vida, com as suas atribulações, essas bem conhecidas de todos nós, comuns mortais, uns mais comuns que os outros.

E na vida, nessa nossa passagem que invariavelmente conduz ao dia em que a gente fina, nesse ínterim de coisas boas e de coisas menos boas, temos de saber aproveitar o que se nos depara dia a dia, no hoje, já que o amanhã é tão desconhecido como é desconhecido o que há para além da vida.

Desde sempre, o homem no seu afã de conhecer o desconhecido, não descura o conhecido, aquilo que a experiência diária confere como fonte de conhecimento e sabedoria, fazendo com que queira fazer perdurar a sua imagem através da sua descendência ou do valor da sua vivência, fazendo jus à estrofe cantada por Luís de Camões no Canto I dos seus Lusíadas, quando reconhece que há quem se liberte, metaforicamente, da lei da morte, porque assim o mereceu e foi reconhecido pelos seus semelhantes.

Mas se Camões cantou as obras valerosas que perduram numa memória colectiva de uma forma heroica, para a grande maioria de todos nós, as “obras valerosas”, aquelas que contribuem para deixarmos a nossa marca nos que estão próximo, não precisam de ser feitos extraordinários de heroicidade, bastam que sejam singelos na simplicidade com que os oferecemos a quem nos rodeia. Qualquer de nós se liberta da lei da morte quando deixa em quem nos rodeia uma recordação de bem estar, de carinho e amor, mesmo sabendo que após uns tempos, mais ou menos dilatados, se desvanece a memória dos que longinquamente se vão seguindo.

Outros há, que deixam uma marca mais profunda no tempo e no modo em que viveram, deixando à posteridade uma placa numa esquina de uma rua ou praça, ou num verso de um poeta que quis cantar um feito que sentiu ser mais valeroso.

Enquanto a vida flui nesta plêiade de comuns, uns mais, outros menos, consoante o olhar deitado ao umbigo, porque nunca se sabe qual o fado que nos está destinado, há sempre quem se julgue destinado a ser operário de uma qualquer obra valerosa que o liberte da lei da morte, esquecendo-se que mesmo que assim seja, provavelmente não passará de uma memória que o tempo se encarregará de ir apagando da memória colectiva, mesmo que a obra valerosa lhe tenha destinado uma menção na placa de uma rua ou praça a que deu o nome, e que será mudada logo que apareçam outros a quererem deixar outras obras que reputam de valerosas.

As obras valerosas libertam da lei da morte da memória comum, mas não libertam da lei da morte que é inevitável na evolução da vida.

Dentro de dias será comemorado o nascimento de Jesus, do Menino Jesus, que deu Vida à vida, que deu conhecimento e crença a quem a quer ter, que explicou o que poderá ser uma ressurreição, que não um renascimento, que deu esperança de Luz ao desconhecido que se cria serem as trevas do fim.

E é por essa Esperança que temos o dever de fazer obras valerosas todos os dias, mesmo que não sejam cantadas por um poeta mais tarde, mas que podem fazer a diferença no dia-a-dia de quem connosco convive.

Um dia a gente morre...

Enquanto assim não é, sejamos valerosos nas obras que fazemos todos os dias!

Comemorando o Nascimento do Menino Jesus, desejo a todos um Bom Natal e umas Festas muito Felizes!

E como só nos veremos no próximo ano, se Deus quiser, aproveito para desejar também um Ano Novo muito Feliz, cheio de Saúde e Prosperidade!