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Uma escola no sapatinho dos porto-santenses?

Os porto-santenses estiveram anos a fio à espera de uma escola nova no seu sapatinho, um estabelecimento de ensino moderno, com condições de trabalho para alunos, pessoal docente e não docente, capaz de dar resposta aos desafios, às pedagogias, às aprendizagens, à aquisição de competências exigidas aos alunos, às alunas e à Educação do nosso tempo.

Mas, infelizmente, ficará para a história mais uma oportunidade perdida.

Em vez de uma escola nova de raiz, foram investidos, ou melhor, gastos, segundo informações públicas, 5,8 milhões de euros na anunciada requalificação da Escola Professor Francisco de Freitas Branco. Os responsáveis do governo regional, servindo-se de estratégias de tempos idos, têm promovido a ideia de que os porto-santenses devem agradecer este esforço, porque têm uma escola melhor do que tinham antes e, por isso, quem reclamar das deficiências do “novo” edifício e dos problemas que persistem é do contra, é ingrato e não sabe ser agradecido. Como se verifica, o governo regional coloca os direitos dos cidadãos no tabuleiro dos favores ou dos presentes de Natal.

Não obstante, seguindo a propaganda do governo regional, se, antes de colocar a escola no sapatinho dos porto-santenses, o Pai Natal fizer uma comparação com a estrutura anterior, a atual oferece melhores condições e segurança, sem qualquer dúvida. O edifício cheira a tinta fresca, já não chove dentro das salas, as casas de banho oferecem outras condições, o amianto foi retirado, a maioria das lâmpadas são novas, o espaço exterior foi melhorado e os recintos desportivos renovados. O Pai Natal poderá descer a chaminé e deixar esta escola no sapatinho dos porto-santenses, mas a comunidade educativa continuará mal servida e insatisfeita, porque quem trabalha e conhece a realidade concreta do dia a dia sabe bem que não basta esconder o ferro velho, atirar tinta fresca e cimento para cima das paredes para garantir as condições de trabalho numa escola.

Existem diversos problemas no edifício que, se houver boa vontade política e humildade, podem ser corrigidos, outros, lamentavelmente, ficarão na lista das oportunidades perdidas. Há corredores que, pela arquitetura e tipo de azulejos, mais parecem acessos a uma piscina, não existe uma janela, a luz natural está muito limitada, o “pé-direito” é baixo, a estrutura provoca dificuldades na circulação do ar, o calor torna-se insuportável dentro das salas de aula, os gabinetes dos professores e das professoras são diminutos, a sala de sessões é uma adaptação, a cozinha não funciona.

A biblioteca não foi pensada, a área é demasiado reduzida. Faltou um projeto que criasse um espaço agradável de leitura, de estudo, de pesquisa, de trabalho de grupo, com uma vertente de multimédia, assente numa arquitetura moderna e atrativa para os alunos, as alunas e restante comunidade. O acesso ao interior da escola para quem tiver a mobilidade reduzida, alunos, alunas, pessoal docente e não docente, encarregados de educação e outros visitantes, limita-se a uma única rampa de entrada pelo exterior, sem qualquer proteção da chuva ou do vento, e sem possibilidades de aceder aos restantes módulos da escola, contrariando, de forma bastante grave, todas as regras de uma Escola Inclusiva.

Exigir mais e melhor é um direito de cidadania e não é uma postura de mal-agradecido. Propor a correção dos erros estruturais da Escola é uma atitude de responsabilidade.