A minha redação de Natal
O ritual dos presentes que vou comprando sobretudo para os mais novos dá-me tanto gozo que por vezes acho que nem eles quando os abrem sentem tamanho prazer
O meu começa logo na passagem de Novembro para Dezembro. Sorteia-se o amigo secreto para a festa de família e dá-se o pontapé de partida para o meu mês preferido. Como antigamente tinha 3 ou 4 jantares de amigos que calhavam no mesmo dia comecei a antecipar-me. Assim sou eu que vou desafiando os vários grupos com datas meticulosamente arrumadas no meu calendário para dar para todos. Vou distendendo os jantares com os respetivos grupos ao longo de todo o mês o que me permite celebrar a época com os que mais gosto. E eu gosto muito de a celebrar. Talvez por ter tido uma infância feliz ou pela música, ou tão só pelos sentimentos de altruísmo e simpatia que assolam as pessoas especialmente nesta altura mas sobretudo pelo encontro de toda a família e amigos.
O ritual dos presentes que vou comprando sobretudo para os mais novos dá-me tanto gozo que por vezes acho que nem eles quando os abrem sentem tamanho prazer. Lá para o dia 21 ou 22 (conforme os anos) arrumo a mala com roupa preparada para o frio e ponho-me a caminho de casa dos meus Pais. Vou sempre feliz, certo de encontrar o meu cantinho que nunca deixou de ser meu e do qual tenho tanta dificuldade em desapegar-me. Na realidade, acho que não fosse a minha vontade de desenvolver os meus negócios e a motivação que me dão os projectos em que vou estando inserido e teria facilmente parado a procrastinar em casa deles sem dificuldade alguma. Quando chego, o cheiro característico dos doces e a magia que paira no ar não enganam. Refastelo-me no sofá com o som da lenha da lareira a crepitar e quase só de lá saio no dia 24. Nesse dia a preparação começa cedo e a azáfama não se esconde por trás de preguiça alguma. Um corropio na cozinha e um acumular de sacos para primos , tios , sobrinhos , pais e avó. A meio da tarde , depois de devorar dois filmes daqueles que passam todos os anos e depois de dois ou três fechar de olhos lá faço a barba e visto uma camisola vermelha para satisfazer a vontade à minha Mãe.
São 19h em ponto e o meu Pai pára em quatro piscas à porta de casa. A minha irmã grita um “desce” e eu lá calço os sapatos à pressa e desço da minha zona de conforto. Só varia o destino uma vez que é prática familiar cada ano calhar a cada agregado. Lá chegados os primeiros 15 minutos são destinados aos beijos e abraços da praxe, o reencontro dos que vêm de Lisboa, do Porto ou de outras paragens ocasionais. Sempre as piadas do costume, a broa que é sempre melhor que a do ano anterior e o bacalhau que quer alho à mesa. Sim porque nós continuamos a levar muito a sério a tradição das couves , da batata cozida e do ovo, agora com o upgrade do grão a meu pedido e da minha prima Carolina. De um lado a mesa dos jovens onde felizmente vou permanecendo e na outra os mais velhos. À medida que os anos passam uma vai diminuindo e a outra aumentando. Circunstâncias da Vida. São 22:30 e começa a distribuição dos presentes , primeiro com o tal amigo secreto e depois com as restantes. Não esperamos pela meia noite porque com o distender da família alguns têm ainda de ir picar o ponto a outras freguesias. Voltamos para casa e distribuímos os presentes entre os 4 (agora com o casamento da minha irmã ou 3 ou 5 dependendo de ela vir com o marido ou não). Ficamos ali a degustar aquele momento conjunto com especial prazer e sempre com um brilhozinho nos olhos. Daqueles que nunca vou querer perder.
No dia seguinte voltamos a juntar a família mas aí a ementa é o Peru. Sigo para Lisboa novamente durante a tarde normalmente acompanhado de mais 2 ou 3 quilos que recebo sempre por esta altura graças aos inúmeros doces que enfardo. Fazemos em casa de uma amiga o jantar de roupa velha e juntamos os mais próximos novamente à volta da mesa. Acabamos a cantar karaoke ou a jogar um dos vários jogos de tabuleiro que por ali habitam.Depois disso e até à passagem do ano um ritual criado há pouco tempo com outro grupo de amigos. Três dias ao melhor estilo do filme “Os amigos de Alex” entre risadas e brincadeiras que vão dando para animar e descansar ao mesmo tempo, bem junto à revigorante Barragem de Castelo de Bode. Por fim mas não último por ordem de importância, sempre a concretização de ações de solidariedade, o hábito de dar , de promover e de tentar aquecer um pouco mais alguns corações menos afortunados. Talvez os momentos mais impactantes e tão cheios de significado como os que passo em família ou amigos.
O desejo de um Natal maravilhoso para todos vós e que os que menos têm possam desfrutar da Paz e do Calor de ter alguém ao seu lado que os faça sorrir e que a magia desta época vos possa dar esperança , conforto e muita determinação para lutar pelas boas ações, pelos bons motivos da forma mais correta. Que sejam felizes!