Análise

Natal residual

Nas notícias os partidos aguardam com expectativa o Orçamento do Estado de 2020, prenda que é entregue amanhã pelo Governo à Assembleia da República. Os cidadãos nem por isso. Desconfiam das migalhas prometidas e suspeitam do aumento da carga fiscal, do custo de vida e da indiferença. É Natal?!

Nas notícias, em semana de cimeira do clima, cujas alterações forçam 20 milhões de pessoas por ano a deixarem as suas casas, anotamos os desacordos e até traições que desapontam a humanidade. A directora executiva da Greenpeace, Jennifer Morgan, já admitiu que a integridade do Acordo de Paris foi destruído “pelo cinismo e pela ganância” e por isso, a cimeira da “ambição” até a meio da tarde ontem falhou, já que “ouviu os poluidores em vez de ouvir as pessoas”. É Natal?

Começaram as ‘missas do parto’. As praças das ponchas e do povo fervilham. Os jantares multiplicam-se. Os centros comerciais transbordam. Não tarda nada surgem as longas noites dos mercados, o consumo desmedido e a ressaca. É Natal?!

Natal é festa que dispensa mesquinhez, rancor, ódio, ajuste de contas, discórdia gratuita e insulto frequente.

Natal é época propícia ao reencontro. De preferência com o essencial. Mas nota-se uma sociedade anestesiada com banalidades de toda a espécie, desde as notificações surreais às discussões sobre feriados. Daí que para alguns, só com muito é que é possível haver festa.

Natal é tempo de dar. Foi angustiante ver os apelos sucessivos ao voluntariado para que a campanha do Banco Alimentar fosse para o terreno.

Natal é coerência. Mas muitos deixam de ser quem são. Transformam-se em anjos, mas são falsos. Dizem o que for necessário, mesmo caindo em contradições, para ficar bem no retrato, mas passam o ano na intriga e na calúnia, na complicação e na desconsideração.

Natal é o que cada um quiser, embora tempo de frases feitas, de uma neve que nem cai nas nossas casas, de sininhos que não se usam na era digital, de amigos secretos e de circunstância quando deviam ser autênticos. Mas também de postais que não chegam pela quadra, tal como um sem número de encomendas que geram “grande carga” nos CTT pois, segundo conta um administrador, por vezes é complicado encontrar carteiros, que com toda a certeza seriam abundantes se a empresa pagasse mais.